Revendo lições.

15 de março de 1983,

Tomava posse o
Governador André Franco Montoro.

Um tempo em que transparência, TOLERÂNCIA, habilidade política, espírito público e inteligência davam as mãos para tocar um governo que não precisava de adjetivos e tinha objetivos. Um tempo de felicidade e idealismo – irmãos siameses – em meio à consolidação de uma crise real, de verdade, a mais grave crise que já se abateu sobre nós.

Ainda sob a ditadura, aquele foi um governo amplo, em que Montoro encheu a máquina de jovens – inclusive do recém nascido PT, que ainda cheirava a cueiro – e deu extrema liberdade a todos para trabalhar, projetar, implantar…

Deu liberdade para esta turma toda acertar, como na criação das Regiões de Governo e dos Consórcios Intermunicipais, dos Comitês de Bacia, do Tombamento da Serra do Mar, da Construção das Estradas Vicinais (4.000km!!! risos), da descentralização da merenda, da feira do produtor e das construções escolares (uma escola por dia!!) que zeraram o déficit de vagas na rede. E, também, de errar, como no caso do Aguapé e da Vaca Mecânica, entre outros.

Um governo que criou dois dos mais belos programas públicos que tenho notícia, o Descobrindo o Interior e o Interior na Praia, para mim símbolos de sua delicadeza, sensibilidade e generosidade…

Fundamentado em inteligência, se apoiou no CEPAM, na FUNDAP, no SEADE, na SUDELPA, nas CATs e na EMPLASA, e em secretários jovens como Sayad e Serra e joviais como Dr. Chopin.

Aquele foi um tempo em que muitos (muitos mesmo!) dos que hoje bradam nojentas cantilenas reacionárias e moralistas, vomitam no PT e escarram em sua boca vermelha que se fartaram de beijar, ostentavam estrelinhas modernetes e nos acusavam de sermos mais do mesmo, de sermos coniventes com o passado e com o Maluf! De usar o “cacetete democrático” contra professores e as tentativas de invasão do palácio dos Bandeirantes…

E, confesso, este mudar de ares e de discurso destes tantos e vê-los em praça pública de braços dados e fazendo coro com os mesmos que faziam ouvidos moucos durante a ditadura me incomoda. Tem me incomodado cada vez mais. Cada dia mais. E hoje incomodou muito.

Confesso, o grito da massa pedindo cabeças me atordoa. Ouvi-la pedir a morte de um só, quando tantos são os criminosos, bradar pela condenação do prático e não da prática, e vê-la perseguir um grupo, seja qual for, por ser e pensar me preocupa, me confunde e me afasta. Em qualquer circunstância.

Por isso fui buscar respostas no meu (nosso) passado, fui mexer em meus guardados e pude, então, rever estas lições lá de 30 anos atrás, de meu ensino básico na política, quando eu mal tinha acabado o primário e entrava no ginásio da cidadania. E encontrei.

Revi ali o que convivi com alguns que se foram tragicamente e o que aprendi com Montoro e outros tantos. Aprendi que quem foi perseguido não persegue, combate. Quem sofreu golpe não conspira, vai à luta. Aprendi ainda que quem tem projeto não se pauta pela negação do outro, mas pela afirmação do seu. E que quem é democrata não transige, mas convive!

Saudosismo? Não! Apenas um testemunho, como se diz hoje em dia.

E uma homenagem a um político com quem eu, ainda um jovem engajado no movimento estudantil e na luta contra a ditadura, aprendi muito e a quem sou grato. Um Político que formou muita gente que, tenho certeza, hoje está silenciosa e preocupada, mais do que exultante.

Valter Caldana

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