O fim do mundo voltou a ter data marcada – dia 2 de agosto – prazo que o governo americano precisa para estar autorizado pelo seu Congresso para aumentar o seu limite de endividamento e conseguir realizar os pagamentos de suas obrigações.
No entanto, a discussão é muito mais política do que econômica. De um lado os Republicanos, que controlam o Congresso, querem vincular este aumento a uma proposta de redução de déficit via redução de gastos do governo e não através de aumento de impostos (quando a sociedade brasileira irá se tornar mais sensível a este tema? CPMF é uma opção que o governo tenta reativar de tempo em tempo por exemplo). De outro, os Democratas de Barack Obama, querem uma margem de manobra maior tanto no redução do déficit como no mix redução de déficit através de impostos vs. cortes de gastos. Tudo isto com o pano de fundo das eleições presidenciais do ano que vem. Ou seja, os Republicanos venderão bem caro esta aprovação.
Ninguém acredita que a tal hecatombe ocorra, dado que o tiro pode sair pela culatra para quem se mostrar muito intrasigente e ficar com o ônus do eventual desastre, que também tenderia a ser temporário. Felizmente, para os EUA, a questão é muito diferente da Grécia e seus pares do club Med. Ainda não existe uma desconfiança na capacidade do governo americano poder honrar suas obrigações no longo prazo, a capacidade da economia americana se adaptar a um novo cenário econômico talvez seja a maior entre as grandes economias globais.
Caso o tal acordo não ocorra, as consequências seriam inimagináveis. Um default americano seria o primeiro da história (sim, o governo dos EUA nunca deixou de honrar suas dívidas) e levaria os mercados a um verdadeiro caos dado que os títulos do governo americano são a base do que o mercado convenciona como “ativo livre de risco” e cuja remuneração funciona como base para todo tipo de transação financeira. Talvez o “ativo” não esteja mais tão “livre de risco” assim.
Independentemente do desfecho, está começando a ficar claro que o período de bonanza na emissão de dívida governamental deve estar chegando ao fim. A liquidez causada pela expansão monetária dos radicais Quantitative Easings do FED deve terminar e veremos os resultados nada promissores de um período longo de desalavangem (redução de endividamento do governo e indíviduos) afetar níveis de emprego, consumo e gastos governamentais durante o resto da década…
a cicatriz tem forma: é aa+
o acordo está a caminho, mas o arranhão vai deixar cicatriz…
Mais alguns comentários:
- o teto da dívida americana já foi elevado algumas vezes nestes últimos 10 anos. Por tanto, não seria nada excepcional/inédito mais um aumento.
- um possível default americano certamente reduziria sua classificação, atualmente em seu nível máximo, AAA. Pois bem, muitos investidores graudíssimos investem apenas neste grupo, que faz parte também, por exemplo, a Alemanha. Democratas e Republicanos sabem disso.
- viveremos para ver um outro país ou bloco econômico capitaneando o capitalismo internacional. Nenhuma liderança é eterna, e a americana já vem sinalizando que seu prazo de validade parece se aproximar.
Em tempo: acredito ser desconfortável falarmos em DEMOCRACIA no singular. Não existem 2 países com democracias iguais. São muitas as variáveis que diretamente influenciam. E muitos entendem e praticam “democracia” como a “arte para transferir responsabilidades”. Um perigo…
Alguns comentários:
- democracia é assim, a oposição pensa mais no “bem eleitoral” do que no próprio país, quem criou essa dívida foi o Governo Bush (republicano), sempre deficitário e apoiador /investidor de 2 guerras caras, agora que o “cartão de crédito” estourou eles lavam as mãos
- Obama herdou a crise, as guerras e acabou perdendo as eleições parlamentares, esse sim teve uma herança especial
- muito se discute sobre o tamanho dos impostos em uma economia, eu penso mais na equação: nível de impostos vs retorno em serviços, o maior problema do Brasil não é o nível de impostos cobrados, mas não ver o retorno em serviços bem prestados, fica difícil apoiar o crescimento dos impostos numa economia com esse retrospecto
- umas das piores anomalias é uma empresa pequena seguir a mesma CLT que uma grande empresa, pois os grandes grupos têm mais recursos para suportar, poderia haver uma cobrança escalonada beneficiando a todos