Abaixo o minhocão, antes que um aventureiro lance mão!

Terça-feira (14/04/15) haverá o II Fórum de debate sobre o futuro do minhocão na Câmara Municipal de São Paulo.

Como estou velho para acreditar em coincidências, apenas destaco que assim como ocorreu no primeiro fórum, este acontecerá dias depois da Comissão de Constituição e Justiça ter aprovado MAIS UM projeto de Lei (o segundo) MANTENDO O ELEVADO e criando o parque minhocão, este ledo engano.

O prefeito, por sua vez, até hoje não se dignou a receber (para um café frio e uma água quente, que seja) um grupo dos que defendem a demolição, enquanto ao mesmo tempo já recebeu e encomendou projetos para a associação parque minhocão (segundo informação dada por um dos seus componentes na mesa do primeiro fórum).

Ao se deixar fotografar com a bandeira do minhocão Haddad se torna o primeiro prefeito de São Paulo pós Maluf 70, a se posicionar pela manutenção do Costa e Silva. É prodigioso.

Já que o prefeito definiu a contenda sobre o minhocão, se posicionando a favor de sua manutenção na cidade, o que me parece encerrar a questão nesta gestão, fica a questão: vale mesmo a pena discutir? Vale mesmo a pena legitimar uma decisão que está tomada?

De quando em quando me pergunto a que(m) servem estas tentativas desesperadas e desesperadoras (e caras!) de legitimar, humanizar e mimetizar o minhocão na paisagem da cidade…

O absurdo de mantê-lo em pé, intacto, é tão grande, tão proporcional ao seu tamanho que qualquer resposta que me ocorra parece simplista demais.

Saber que a História vai cobrar caro e rápido destes que hoje defendem a manutenção do Minhocão na cidade já não me apazígua a alma como anos atrás o simples ouvir da música de Chico Buarque cantarolada pelas ruas me enchia de esperanças e certezas. [ouça aqui].

Por outro lado, por que prefeito, vereadores importantes, grupos de interesse do mercado imobiliário e alguns grupos sociais, mesmo sendo tão diferentes entre si (dando-lhes o benefício da dúvida) se uniriam de modo tão eficiente?

Seria pelo simples fato de que acreditam ser esta uma solução verdadeira? Ou seria apenas para justificar seu imobilismo e falta de coragem política de enfrentar os problemas nas suas reais dimensões? Seria simples influência dos bacaninhas do espaço, os mesmos que descobriram as bikes via Dinamarca sem nunca ter olhado para o Jardim Ângela ou para Ermelindo Matarazo?

Ou será que cada explicação acima cabe a um dos agentes citados?

Qual a dificuldade que têm o prefeito e os vereadores de compreender que este Projeto de Lei é um projeto conservador, posto que conserva, preserva, mantém, inaltera o Minhocão, fonte real dos problemas urbanísticos enfrentados pela cidade na sua relação com o seu centro nas três escalas – a local, a regional e a metropolitana?

Acho que a única resposta que encontro, por fim, é a mesma que tem explicado tantos de nossos enganos recentes: raciocínios rasos, análises curtas e apressadas e um incontrolável (atávico?) desejo de resolver todos os problemas com um tiro só, jogando todas as demais variáveis e condicionantes (e conquistas anteriores) para debaixo do tapete.

(continua)

Valter Caldana

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