Repórter: O sr. poderia comentar a reportagem da “Vejinha” sobre o Minhocão?
Francisco Machado: O mérito da matéria da “Veja – SP” é mostrar que a respeito do Minhocão existem duas correntes: uma que deseja o seu Desmonte, por considerar ser um problema de saúde e segurança pública e outra que apegando-se a uma estrutura velha, do século passado, sem nenhuma manutenção, considerada por urbanistas, arquitetos e especialistas como uma “cicatriz urbana” e sobre ela tentar fazer o que estão chamando de “parque”.
Repórter: E sobre a matéria em si?
Francisco Machado: Veja bem: o Plano Diretor Estratégico de São Paulo (lei número 16.050/14) ao tratar do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, indica sua desativação por todos seus aspectos negativos e aponta duas alternativas: “parque” ou seu desmonte.
A capa da “Vejinha” não foi tendencial quando apresenta apenas uma fotomontagem de um idílico “parque”?
Repórter: O sr. acha que faltou imparcialidade ?
Francisco Machado: A imparcialidade jornalística não seria no sentido de uma capa com as duas opções indicadas no Plano Diretor?
Ou seja, metade da capa com fotomontagem de “parque” e a outra metade da capa, com fotomontagem sem o Minhocão e com bela avenida, arborizada e ajardinada?
Em nenhum momento apresenta simulação de uma bela avenida no lugar desta aberração urbanística que é o Minhocão. Mas não só na capa, mas internamente, a “Vejinha” apresenta fotomontagem, de simulações de situações de “parque”, até com campo de futebol etc.
Uma coisa é certa: não falta a Editora Abril recursos gráficos para apresentar – se quisesse – simulações de restauração da Avenida São João e Amaral Gurgel, com bela avenida, que poderia ser um cartão postal de São Paulo.
Mas na capa e internamente só apresentam fotomontagens tendenciosas e unilaterais, mostrando apenas a opção caolha de “parque”. Não é lamentável?
Os cariocas parecem que são mais ágeis e já demoliram a medonha Perimetral. Em seu lugar já há belo calçadão, com árvores, flores, bancos e bela vista para a Baia de Guanabara. Fizeram mais um cartão postal da Cidade Maravilhosa.
E assim é a tendência mundial: eliminar viadutos e em seu lugar belas praças, rotatórias, como já fizeram nos Estados Unidos, Canadá, França, Espanha e até na Coréia.
E aqui se discute o que fazer sobre essa “cicatriz urbana” no rosto de São Paulo, ilha de calor, área degrada e insalubre, onde há mais de quarenta anos não entra um raio de sol. Quando no local se pode fazer bela avenida, cartão postal de nossa cidade.
Repórter: A reportagem da “Vejinha” entrou em contato com o MDM ?
Francisco Machado: Positivo. Atendemos as duas repórteres da “Vejinha”. Demos todos os esclarecimentos do porque somos a favor do Desmonte do Minhocão e em seu lugar fazermos bela avenida, com árvores e florida, com pistas para cooper, bikes etc.
Fornecemos também vasta documentação com dados concretos dos malefícios que o Minhocão causa à saúde e à segurança dos mais de duzentos mil moradores-eleitores que residem e/ou trabalham ao longo e no entorno do Minhocão.
Lamentavelmente da entrevista dada e de toda documentação apresentada, se limitaram a citar apenas uma frase. Repito: não é lamentável?
Repórter: Você acha que deram mais espaço aos que propõe “parque”?
Francisco Machado: É só ler a matéria e constatar o amplo espaço, com fotomontagens etc, dado aos que propõe “parque”, a ponto de chegar a dar detalhe de indicar até um “bar da Dona Onça”, onde se realizam as reuniões deles. Propaganda grátis? Só faltaram dar endereço, telefone etc. Repórteres amigos do “bar da dona onça”?
Repórter: Porque vocês são a favor do desmonte e contra o “parque”?
Francisco Machado: Veja bem: quem em sã consciência é contra um parque?
Quer coisa melhor do que se faz nos fins de semana , aqui perto, no Parque Água Branca, onde as famílias vão passear com suas crianças, desfrutando a sombra acolhedora das árvores, ouvindo o canto dos pássaros, o murmurar da água da fonte, respirando ar puro etc?
Somos a favor não só de um, mas de vários parques nesta selva de pedra, concreto e asfalto que se transformou a cidade de São Paulo. Entretanto, encima do Minhocão, não! É o local mais inapropriado que possa haver!
Repórter: Mas a população não já se apoderou do Minhocão?
Francisco Machado: Desculpe, como já se apoderou? O que há é o seguinte: com a falta de espaços públicos para lazer, qualquer rua que se feche no final de semana – por exemplo, se fechar as duas pistas em frente à Câmara dos Vereadores – o que vai acontecer? As pessoas não vão descer de seus apartamentos para caminhar e se distender nas ruas fechadas ao trânsito? Isso quer dizer que como consequência, essas ruas devem ser fechadas em definitivo ao trânsito e destinadas a “parque”?
Repórter: Você falou que os moradores são contra “parque” e querem o desmonte. Podia dar um exemplo?
Francisco Machado: Com certeza. Ainda agora, no nosso Facebook, a Síndica de um prédio na Avenida São João, perplexa com a matéria tendenciosa da “Vejinha”, escreveu: vou ler para você.
É a Sra. Irene. Diz ela: “A capa da Vejinha de hj 16/05 beira a insanidade desses visionários que não pertencem a região. É um absurdo ter que nos dobrar diante de meia dúzia de Arquitetos, ativistas e “artistas” que em sua grande maioria moram no Morumbi. Só querem fazer nome. O meu sonho para a av. S.João, direito a ver o céu e sentir a energia do sol. MERECEMOS RESPEITO …”
E ela conclui: “Opção de lazer na região são inúmeras, Pq da Água Branca, Praça M.Deodoro, Praça Olavo Bilac, Praça Roosevelt, Largo do Arouche, Praça VilaBoim, Praça Buenos Aires, além do bairro inteiro estar completo com ciclovias, Av. São Jõao e Amaral Gurgel são vias expressas e nunca vi área de lazer em vias expressas.”
Repórter: Voces do MDM planejam alguma ação em relação a esse lance do “parque”? Voces acham que é um lobby?
Francisco Machado: Na terça-feira dia 12, protocolamos no expediente do Prefeito Haddad, solicitação assinada por 15 associações dos bairros que sofrem os efeitos nocivos do Minhocão, pedindo que até que o Executivo dê o destino final ao elevado, que seja mantido o status quo.
Repórter: Porque?
Francisco Machado: – Os usuários de veículos que usam o Minhocão aos sábados é distinto dos que trafegam por ele durante a semana. Aos sábados são pessoas que vem ao centro fazer compras ou resolver assuntos pessoais.
Impedi-las de usar o elevado, prejudicará o comércio do centro e sem a Prefeitura oferecer rotas alternativas, os veículos se acumularão nas pistas sob o Minhocão, aumentando as poluições atmosférica, sonora e visual, pois suas pistas de concreto funcionam como tampas de panela que impedem que os gases tóxicos ejetados pelos carros se dispersem pela atmosfera, invadindo apartamentos, comércios e os pulmões de milhares de moradores-eleitores.
As próprias pessoas que vierem andar no Minhocão, inclusive crianças e idosos, pensando que estão fazendo algo benéfico à saúde, estarão respirando um ar densamente poluído que vem debaixo , ejetados pelos escapamentos dos milhares de carros que se acumularão nas pistas debaixo, sem falar nos gases mais poluentes ainda e nocivos a saúde humana, que são os ejetados pelos escapamentos das mais de trinta linhas de ônibus que circulam embaixo.
Reafirmamos: o assunto Minhocão é um problema de saúde e segurança pública!
Repórter: Voces já calcularam em termos de valores, quanto ficaria o desmonte do Minhocão?
Francisco Machado: Uma coisa posso lhe garantir: ficará muito mais barato do que a eventualidade de “parque”.
Repórter: Como assim?
Francisco Machado: Já lhe digo. E isso sem falar que as partes do Minhocão são desmontadas e podem ser reutilizadas para pontes sobre rios em bairros da periferia etc, gerando economia para a municipalidade.
O alegado High Line nos Estados Unidos – que diga-se de passagem era uma via férrea desativada e que não passava entre prédios residenciais – “até agora custou cerca de U$ 240 milhões” de dólares (é o que afirma a matéria de “O Estado de São Paulo”, 14/9/14).
É bom lembrar que o High Line tem um quilometro a menos da extensão do Minhocão e sua pista é muito mais estreita, a metade da largura do Minhocão.
Pense no valor do dólar atualmente e se chegará a conclusão que o tal despropositado “parque” sobre o Minhocão passará da astronômica cifra de um bilhão de reais.
E isso só para fazer o “parque”. E com que verba vai se manter esse novo “parque” de quilômetros de extensão? Veja a situação de abandono em que se encontram nossas praças e parques. E numa cidade onde nos últimos meses caíram praticamente duas mil árvores, por falta de manutenção. Inclusive causando mortes.
Como vai se manter esse “parque” sobre o Minhocão? E na falta de manutenção, não vai se transformar o Minhocão não num “parque”, mas no que o Presidente do Conselho de Segurança – CONSEG - Santa Cecília, o sr. Fábio Fortes, receia?
Que vai ser uma extensão da cracolândia? Uma cracolândia suspensa?
Não é de se temer uma coisa dessas?
Basta ver o que acontece à noite, nas alças de acesso ao Minhocão, sobretudo em frente ao Largo da Igreja de Santa Cecília. Não se transformam em verdadeiras cracolâncias?
De onde a Prefeitura vai tirar verba para manter um “elefante branco” de um “parque” encima do Minhocão? E isso numa cidade como a nossa, com a alta carência de creches, postos de saúde, CÉUS , moradias etc.
Outro benefício do Desmonte do Minhocão: teriamos a redescoberta de prédios históricos que marcaram a história de nossa cidade, hoje cobertos com mantos negros de décadas de fuligem da poluição.
Com o Desmonte do Minhocão, finalmente os milhares de moradores-eleitores poderiam abrir suas cortinas e janelas e respirarem ar puro, vendo as árvores e flores da futura avenida.
Além disso se revitalizaria essa região central, seria bom para os moradores, comerciantes e até para a Prefeitura, que com a revitalização do comércio, aumentaria a sua receita de coleta de impostos como ISS etc. Ou seja, seria bom para todo mundo. Quer coisa melhor?
Resumindo: o desmonte do Minhocão só seria benéfico para todos e fonte de entradas para o município.
No caso de “parque” só se terá gastos de quantias voltuosas, e isso para uma Prefeitura que está falida, que inclusive diminuiu as verbas para as subprefeituras.
Repórter: Você acredita que o Elevado seja fruto de um mau planejamento viário?
Francisco Machado: Faço minha as palavras do então candidato à Prefeitura de São Paulo, Sr. Fernando Haddad, que em debate no SBT, ao responder ao entrevistador Carlos Nascimento, sobre o affaire Minhocão, afirmou:
- “O Minhocão não deveria nem ter sido construído. Solução equivocada para o problema de mobilidade”.
Aliás, além da solicitação das entidades comunitárias que protocolamos na terça-feira, no gabinete do prefeito, dia 12/5, estamos aguardando uma reunião com ele.
Repórter: Foi divulgada pela associação do parque, uma foto do Haddad com a bandeira do parque…
Francisco Machado: … houve recentemente um evento na Câmara Municipal, onde ele mandou desautorizar de público o uso político que estavam fazendo dessa foto.
Repórter: Como foi isso?
Francisco Machado: O sr Luís Eduardo Surian Bretas, Superintendente da Diretoria do SP Urbanismo, representando o Secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Sr. Fernando de Melo Franco, no II Forum sobre o Minhocão, declarou no evento :
(…) “ O Prefeito… teve uma foto divulgada, acho que na sexta-feira passada, dele segurando ( obs: bandeirinha do “parque” Minhocão ), uma foto com relação ao parque. A posição não é essa!
A posição é uma posição de escutar todas vertentes.
Quer dizer, ele está lá, disposto a receber quem quer que seja, que tenha boas idéias, boas propostas com relação ao impacto que o Minhocão causa na nossa cidade.
Quer dizer, nós temos um equipamento que foi construido sem o menor critério, sem a menor análise de impacto, e hoje, ele jamais seria construido. Todos nós sabemos disso. Não passaria em lugar nenhum. Mas ele existe e ele está lá. Hoje, para a gente fazer a remoção é uma situação completamente diferente”. (…)
Repórter: Que outra ação o MDM está planejando fazer?
Francisco Machado: Além de protocolarmos no gabinete do prefeito, a solicitação das associações dos bairros por onde passa o Minhocão, o sentido de até a decisão final do Executivo, seja mantido o status quo – o que é mal menor – enviamos também carta-aberta a todos os vereadores que desinformados, votaram no pl 22/15 do vereador Police Neto, atentatório à saúde e segurança pública.
Informamos nesta carta-aberta aos vereadores, os graves motivos pelos quais somos a favor do Desmonte do Minhocão e pedimos que na próxima votação do assunto, seja feita de forma consciente, e não na base da “votação simbólica”, em regime de “votação simbólica” na qual praticamente se aprova tudo proposto.
Não temos que visar o bem da comunidade?
Não sei se você sabe, esse pl- 22/15 do Police, não teve nem uma audiência pública para que a população pudesse se manifestar. Não estamos numa democracia? Porque esse receio de convocar audiência pública regimentar, para dar ocasião dos moradores se manifestarem?
Tudo agora passará a ser decidido em confortáveis gabinetes com ar condicionado, enquanto a população se frita junto a essa ilha de calor que é o Minhocão e sofrendo com as poluições atmosféricas, sonoras e visuais? Não temos nossos direitos e não devemos lutar legalmente por eles?
Repórter: O Elevado é palco de diversas manifestações culturais. Com a sua derrubada, como essa questão poderia ser solucionada?
Francisco Machado: Há várias opções que a Prefeitura pode escolher. Porque necessariamente tem de ser feita na frente das janelas de nossos moradores? Temos inclusive aqui na região três hospitais: Santa Cecília, Santa Casa e Santa Isabel, que não comporta certos tipos de eventos ruidosos , pelas razões óbvias.
É bom lembrar também que pelo menos três praças centrais – Bandeira, Princesa Isabel e Amaral Gurgel – são ocupadas por empresas de ônibus, que na prática são garagens.
Ônibus não foi feito para circular? Porque não colocar os ônibus para circularem e retomarmos nossas praças e fazermos ali belos parques? Porque não fazer praças com pistas circulares para cooper, ciclovia etc ?]
Repórter: A pesquisa Data-Folha indicou que a maioria dos entrevistados são a favor do parque.
Francisco Machado: Tivemos acesso a essa pesquisa e constatamos que houve uma manipulação dos resultados.
A tal “maioria” que foi alardeada são pessoas que fazem parte do que se chama “população flutuante”, ou seja, pessoas que moram em outros bairros e que estão aqui apenas de passagem, ou para compras, ou para trabalho. Mas não residem aqui e portanto não sofrem os efeitos nocivos das poluições e falta de segurança geradas pelo Minhocão. Essa maioria dos entrevistados mora na zona leste.
Pergunto a você: eu que não moro na zona leste, posso me manifestar sobre um problema do bairro deles? Não moro lá. Como posso opinar com conhecimento de causa? A recíproca não é verdadeira? O que houve foi uma manipulação na apresentação dos resultados da pesquisa Data-Folha.
Apenas 7% dos entrevistados são moradores ao longo do Minhocão. E a pesquisa indica que eles, em sua totalidade, apoiam o desmonte do Minhocão.
E a respeito das assinaturas que o Athos diz ter, temos gravação em evento público, na qual ele confessa que troca assinatura por sorvete…
Além de ter o fator de que a muita gente ainda está desinformada da totalidade dos malefícios causados a saúde pelo Minhocão. Se oculta isso e apresenta-se a proposta de idílico “parque”. Não constitui propaganda enganosa?
Repórter: O que o Minhocão representa hoje para vocês, moradores?
Francisco Machado: Um pesadelo, um tormento! Pior: uma constante ameaça à nossa saúde, de nossas crianças e de nossos idosos. E querem perpetuar esse suplício?