Novos velhos temas e a janelinha

Uma observação sobre a gestão da cidade de São Paulo e sobre a lenda urbana de que a cidade cresceu sem planejamento: vejamos alguns temas que aparentam ter sido “inventados pelo Haddad” para nos incomodar cotidianamente, mas que têm de 30 a 50 anos de discussão e ação acumuladas, quando não 80…

Faixas de ônibus – 35 anos e ainda em implantação
Corredor de ônibus – 30 anos e ainda em implantação
Calçadão – 40 anos (e deveriam estar sendo ampliados)
Plano Diretor – 47 anos (PUB) e recém atualizado
Zoneamento – 45 anos e em discussão na Câmara (vai mal)
Velocidade em vias expressas (marginais inclusive) – 40 anos
Ciclofaixas – 12 anos e em construção (a primeira, 35 anos)
ZEIS – 12 anos e em implantação
Corredor em Z1/ZER – 35 anos e em discussão
Regularização fundiária e regularização de favelas – 30 anos
Ocupação de áreas de risco e mananciais – 40 anos e ainda …
Revitalização do centro – 80 anos e em discussão
Minhocão – 45 anos de discussão
Fim do departamento de urbanismo e toda a força à CET- 45 anos

Ultimamente tenho dito e escrito que o mito “São Paulo, cidade não planejada” é, na verdade, um muito bem engendrado mecanismo de auto-indulgência, sobretudo dos agentes e setores hegemônicos no sistema de produção da cidade.

O nosso problema é que São Paulo foi SIM planejada, só que para ser assim como é! E hoje este modelo já não nos serve, não nos agrada. Não serve a uma parcela significativa da população que hoje se sente em condições de alterar o equilíbrio do sistema de forças que produz a cidade, mesmo não sendo ainda hegemônico.

Seja como for, vale lembrar que este modelo vigente funcionou muito bem de 1930 a 1980 para construir uma das cinco maiores cidades do mundo, que recebeu e abrigou milhões de migrantes e imigrantes e produziu riqueza “a dar com pau”, ainda que a custos sociais, culturais e ambientais altíssimos, gerando déficits também monstruosos.

O que importa, agora, é saber quem conseguirá mobilizar, seduzir a sociedade para assumir a necessidade de trocar este modelo de urbanização, que se tornou um cadáver insepulto. Haddad, atropelado pela crise petista, pelo movimento pendular do eleitorado paulistano, pelo peso da máquina que reproduz cegamente hegemonias anteriores e por suas próprias limitações tem tentado. Mas conseguirá corrigir rumos e receber mais quatro anos para consolidar mudanças iniciadas?

Portanto, peço atenção para o fato de que talvez não seja a cidade que tenha crescido sem planejamento. Talvez sejam amplos setores da sociedade que tenham despertado só agora para este tema e estejam buscando um novo posicionamento neste sistema. (leia aqui)

Enfim, para aos novos partícipes desta longa conversa, um lembrete: a cidade não só NÃO É um palco ou um ser inanimado como, ao contrário, é protagonista na nossa vida, é um ser vivo que reage a estímulos… E a resultante de um complexo sistema de forças do qual todos fazemos parte.

Valter Caldana

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