Questões aristotélicas:
Existem duas, e apenas duas maneiras de se “pegar obra” no Brasil: a lícita e a ilícita.
A lícita é una, indivisível. Para ela existe até uma Lei, a de licitações.
A ilícita, neste nosso cestinho de mundo que a tudo racionaliza e relativiza, se subdivide em três: a ilegal, a imoral e ambas, ilegal e imoral.
A ilegal, todos sabem, é ilegal, fora da Lei.
A imoral é dentro da Lei, com alguma interpretação licenciosa que a justifique. Boa parte dos prestadores de serviço e vendedores para o Estado se vêem nesta situação.
A categoria ambas é bem menos aplicada mas bem grave também. É o banditismo puro.
Claro, aqui no cestinho de mundo onde ainda se compra indulgência plenária, quanto maior o valor da obra mais grave fica o pecado, como se a ele fosse possível aplicar dosimetria.
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Pois bem.
O nosso problema estrutural é que a maior parte de nossas mazelas se situa na categoria imoral. Ou seja, é quase sempre legal.
Aí começa o problema aristotélico (por isso o cara falou de física, de política e de ética ao mesmo tempo).
Quando você enche uma caixa d´água com águas vindas de uma fonte limpa e outras águas vindas de uma fonte suja, quando você abre as torneiras – a da cozinha, a do banheiro e a do quintal, por exemplo – como se pode afirmar que a água de uma das torneiras é suja e a das outras é limpa?
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Não se pode. Mas se pode acreditar, basta querer.
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Já a caixa d´água, continua a mesma…
Valter Caldana