Acorda amor, eu tive um pesadelo…

Enquanto houver um único brasileiro que creia que é possível acreditar que haja um lado – direita ou esquerda, pt x rapa, etc. – para que se use de ponto de vista, observação e crítica desta crise, a mesma não terá solução (boa).
Sobretudo por que tudo o que está acontecendo agora era absolutamente previsível. Mais que isso, estava anunciado.
Uma parcela significativa da sociedade, a que perdeu as eleições presidenciais passadas, apostou todas as fichas em se servir do que havia de pior em quem ganhara as eleições para reverter o resultado. Comprou o guarda-costas.
Pois bem, esta parcela apostou e perdeu. Perdeu feio. Só podia perder.
Perdeu por que faltou às aulas de catecismo, principalmente naquela em que contam uma história bonita que diz “atire a primeira pedra”…
Faltou também às aulas de História (as mesmas que querem tirar do currículum, talvez numa tentativa de provar a si mesmo que não fariam diferença alguma). Faltaram sobretudo naquelas em que se ensina que o espectro político brasileiro não tem três forças – esquerda, centro e direita – mas quatro, as três anteriores e os corruptos. Que ele é ainda completado nas três razoáveis por nacionalistas e entreguistas e que há um grupo hegemônico que tomou o poder pós-GV e dele nunca apiou…
E mais, que este grupo se serviu sempre dos mesmos métodos, usando sempre aqueles que estivessem em melhor situação de diálogo com a sociedade para usar de escudo e guarda-chuva para se manterem no poder.
Prestou pouca atenção, ainda, às aulas de ética do cotidiano, aquela que nos ensina que traidores não passam disso, traidores. E que confiar em um ou em vários deles é entregar-se à sua própria prática, que é a traição. É, portanto, trair-se a si próprio. Nunca prestaram realmente atenção a figuras como Tiradentes, aquele que foi traído, mas não traiu jamais…
Os mais ilustrados e letrados então, estes faltaram às aulas de economia, de sociologia, de matemática, pela fala de um seu presidente até mesmo nas aulas de português pois diziam com a boca cheia: se continuar assim, o Brasil vai quebrar. Pois bem, caros, não continuou assim e…
Não! O Brasil não quebrou, e não vai quebrar.
Mas não por sua grande capacidade de análise política ou econômica, ou por suas alianças e preferência. Não pelo fato do poder ter sido dado a uma gangue de bandidos já conhecidos fartamente.
Também não será por sua incapacidade de enxergar a realidade e as provas cabais. Muito menos por sua capacidade de ver e entender a diferença entre uma crise econômica que gera uma crise política de uma crise política (que encobre uma disputa entre bandos) que gera uma crise econômica.
Não vai quebrar, mas não é graças à sua capacidade de não ver o quanto mudou a inserção internacional do Brasil e quantos interesses, acordos e pontos de equilíbrio global isso incomoda ou modifica e que, por isso mesmo, as disputas neste cenário passam a ser maiores do que simples chororô por aumento de preço do café ou da soja…
Não vai quebrar. Mas não é por que há os que teimam, como agora, em comparar os áudios batistas com os áudios moristas e em defender um governo de bandidos comandado por um traíra. Muito menos por que continuam a defender a privatização do Estado se recusando a reconhecer que um Estado privatizado só pode se tornar um balcão de negócios.
Tampouco pela incapacidade de enormes setores da sociedade perceberem que a criminalização da pobreza só leva à guerra e à destruição. E que esta guerra já está perdida.
Não vai quebrar por que… Bem, não sei por que não vai quebrar.
Mas tenho a impressão de que é pelo simples motivo de o Brasil ser mais importante do que supomos, por que temos uma capacidade de trabalho incomensurável, riquezas naturais desproporcionais, uma cultura popular fortíssima.
Além de uma população que se desperta a cada dia para o fato de que foi traída por todo o espectro político, circunstancialmente dominado pela corrupção, e iludida pela ideia de que o Estado e a Política não são instrumentos privilegiados de crescimento, desenvolvimento, valorização do trabalho e do empreendedorismo.
Vai passar. O que lamento é que pode demorar…
Valter Caldana

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