“O que acontece atualmente dentro de uma das maiores universidades da América Latina é nada mais do que um profundo desrespeito à memória do estudante Felipe Ramos Paiva, 24, morto em maio num estacionamento dentro da USP.
Grupos que, em absoluto, representam a comunidade uspiana talvez queiram liberdade para o cultivo e posterior consumo de seu herbário, mas não se preocupam com a segurança de alunos que saem à noite das aulas e ficam um tempo prolongado nos pontos de ônibus ou então à mercê da bandidagem quando vão buscar seus carros nos estacionamentos. Além disso, quem vai pagar pelas viaturas da PM depredadas na semana passada? O dinheiro público, é claro.
A USP faz parte da sociedade e, como tal, deve seguir as leis e princípios morais que regem a vida social. Não obedecê-las é compactuar com a baderna.”
Marcelo de Campos Pereira, professor FMVZ-USP
Carta publicada na pág.3 da Folha de São Paulo, em 31 de outubro de 2011.
Em poucas palavras e muita claramente, o professor Marcelo sintetizou o sentimento da maior parte da comunidade uspiana. É muito triste constatarmos as prioridades de reivindicação de uma juventude considerada privilegiada. Não é que não querem a presença da polícia no campus, querem liberdade para a prática de atos ilegais. Preocupa-me sobremaneira imaginar que alguns destes cidadãos ocuparão cargos estratégicos em nosso país daqui 10, 15 anos.
Imagino como se sentem os então jovens nos anos 60 e 70. Estes reivindicavam por liberdade de imprensa, por uma sociedade igualitária com oportunidades semelhantes a todos, por melhorias na Educação e Saúde… nossa, quanta diferença !!! ….
Eu que tenho contato com universitários da USP, e não necessariamente do curso de medicina veterinária, pois meus amigos mesmo são de cursos da fflch ou fau, posso dizer que a presença da PM no campus não é o único motivo, e pra muitos ali, muito menos o motivo principal. Outras questões estão relacionadas como escolha democrática do reitor, segurança no campus (abertura do campus aos fins de semana, iluminação, guarda-universitária etc). Além disso, há relatos de que a PM exercendo o papel dela, se concentra nos arredores da fflch. Minha amiga está no quinto ano de arquitetura e nunca viu os policiais fazerem a ronda pela fau. Concordo que o mais racional é se policiar onde o foco de um dos problemas está, a questão é que este problema que todos discutem é apenas um dos problemas… Outros crimes mais graves como estupro, assassinato continuam ocorrendo pelo campus. Não estou defendendo o fato da ocupação da reitoria ou a utilização de liberdade para se drogarem como argumento para a retirada da polícia do campus, mas a mídia manipula os fatos e só repassa para a sociedade o que lhes interessa. Ninguém mostrou a passeata bucólica com velas e luzes azuis que os alunos fizeram na semana passada, ninguém transmitiu ou falou dos debates entres eles em reuniões organizadas pelos centros acadêmicos, nenhum repórter abordou um estudante e lhe perguntou quais são os argumentos das passeatas e protestos que vêem organizando, simplesmente chegam e perguntam se o universitário é contra ou a favor da saída da PM para utilizarem drogas ilícitas sem serem incomodados. Como sempre a sociedade vem cometendo o mesmo erro, julgando pelas aparências e generalizando; Antes de se criar uma opinião, tenho pra mim, que nada como procurar os conceitos com a fonte/as pessoas que estão diretamente envolvida na questão.
Isaías!
agradeço muito sua opinião neste BLOG. Acredito, sinceramente, que é com as diferenças que melhoramos.
Apenas acrescentaria um item a mais nesta discussão, que julgo bastante importante: alguns dos manifestantes se auto-proclamam “presos políticos”, e alguns vão além, afirmando que a polícia foi muito mais truculenta hoje do que no final dos anos 60. E vi estas declarações em vídeo não editado. Isto me entristece muito. Não vivi diretamente os anos de chumbo, mas convivi e convivo com aqueles que lutaram contra. Sei, portanto, as agruras e reivindicações desta geração. Definitivamente não cabe comparação entre estas gerações e entre suas reivindicações. Tomo a liberdade de imaginar como alguns daqueles manifestantes do final dos anos 60 poderiam estar se sentindo com estas comparações infundadas.
E vou além: cedo ou tarde haverá situações que levarão como última ferramenta de protesto a invasão da reitoria, só que por motivos nobres. Já imaginaram o “prato cheio” que as “forças conservadoras” tem em mãos graças a este protesto? Parece-me claro que sempre se lembrarão do ocorrido nesta semana para desmoralizar qualquer nova manifestação, seja ela justa ou não…
Salve Fabiano,
tão logo acabei de postar meu comentário ao seu artigo, deparei-me com esse artigo na Internet que, pelo enunciado, mostrar estar mais “por dentro” do assunto.
Abraço,
Izaías.
Reações ao câncer de Lula e à PM na USP
Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:
As reações, na internet, a dois eventos recentes – o anúncio de que o ex-presidente Lula está com câncer e a atuação da PM na USP – têm causado perplexidade e repulsa pelo modo agressivo com que se expressam e pelo que evidenciam de falta de educação, preconceito e inadaptabilidade ao debate democrático. Mas, como veremos, há mais pontos em comum entre essas duas manifestações de intolerância do que à primeira vista sugerem.
Agressões ao doente
Receber a notícia de que alguém está com câncer – ou com outra doença tida como grave – costuma despertar compaixão no ser humano. Alguns atribuem tal reação a uma suposta bondade inerente à nossa espécie, acreditando que por baixo das máscaras que adotamos para a vida em sociedade vicejam corações plenos de boa intenção; os não-rousseaunianos, mais reticentes, afirmam tratar-se de uma reação ditada pelo instinto de preservação: o temor de que venhamos a padecer da mesma enfermidade faz com que nos identifiquemos com a dor alheia como forma de esconjurá-la.
Seja como for, considera-se que festejar e regojizar-se com o anúncio da doença alheia é reação que ultrapassa todos os limites do bom senso e da convivência em sociedade. É por isso que o que se viu, na internet mas também nas redações, logo após o anúncio de que Lula está acometido de um câncer na laringe, marca um dos pontos mais baixos do debate público no Brasil. No momento de maior fragilidade do ex-mandatário, deu-se vazão a todo o ódio e preconceito de classe acumulado nos anos em que ele esteve no poder.
O texto definitivo sobre o caso veio da pena cada vez mais afiada de Maria Inês Nassif, que entre outros pontos relevantes apontou que não é de hoje que o respeito mínimo devido a todo presidente eleito não tem lugar quando se trata de Lula da Silva – e que entre os que através de tal procedimento desrespeitam a própria instituição da Presidência está a própria mídia, que deveria dar o exemplo.
Insultos aos estudantes
Pois nem bem as forças democráticas se recuperavam de tais excessos agressivos – que levaram até jornalistas notadamente conservadores a reclamar – e o país já se via diante de um novo efeito-manada, uma onda de insultos contra estudantes da USP que, em reação contrária à decisão (tomada em assembleia própria) de desocupar o prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) decidiram ocupar a Reitoria para continuar protestando contra a ação da PM no campus, com revistas constantes, que culminaram na prisão de três alunos de Filosofia presos com um cigarro de maconha.
Daí em diante o que se viu, mesmo entre autointitulados esquerdistas, foi uma onda de protestos contra o que chamam de “os maconheiros da USP”. Mesmo deixando de lado a generalização descabida, há, em pleno século XXI – quando as principais democracias reconhecem que o uso de maconha é questão de foro pessoal e do âmbito da saúde, não da segurança pública – algo de intrinsecamente anacrônico no uso do ajetivo “maconheiro” como forma de promover estigmatização e desqualificação. Além disso, assim como ocorreu com a doença do ex-presidente, o que o fenômeno da reação virulenta à invasão da Reitoria da USP nos traz é, uma vez mais, o ódio de classe e os recalques de fundo psicológico, vindos à tona de forma agressiva e com vocabulário tosco. A internet enquanto catarse.
A herança do desmanche
A realidade, porém, é bem mais complexa do que os histéricos querem fazer crer. Como explica de forma detalhada o professor da USO Pablo Ortallado, em ótimo artigo, a violência na instituição está diretamente ligada a um processo de restrição cada vez maior do exercício da democracia interna. Por meio deste, a USP é, hoje, uma das universidades públicas brasileiras em que professores, servidores e alunos têm o menor peso nas decisões importantes, a cargo de colegiados de membros de estâncias burocráticas superiores que se transformaram em verdadeiros feudos, onde o poder se perpetua nas mãos de poucos.
Em decorrência disso, cerceia-se ao máximo o raio de ação política dentro das regras do jogo por parte de alunos, professores e funcionários. Ora, quem já pássou por uma ditadura sabe: quando as regras cerceiam o exercício da democracia, é dever do democrata desobedecer e lutar pela modificação delas. Achar que a brutal repressão institucional a que a USP vem sendo submetida nos últimos 20 anos iria ser aceita passivamente é subestimar a inteligência dos uspianos.
Agrava essa situação o modelo urbanístico adotado pela universidade paulista, que é criticado pela arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP) Raquel Ronik, o qual colaboraria para a segregação social no campus e entre moradores da cidade e uspianos, como apontam os alunos de Relações Internacionais Leonardo Calderoni e Pedro Charbel, em artigo que denuncia a forma manipuladora como o conceito de autonomia é instrumentalizado pela instituição.
O PSDB tem um papel preponderante nesse estado de coisas, não só porque, à frente do governo de São Paulo há 17 anos, é co-responsável pelo estágio urbanístico-social-institucional da USP, mas porque José Serra – que não nomeou o candidato a reitor que ocupava o primeiro lugar na lista tríplice, preferindo o polêmico Rodas – e Geraldo Alckmin estavam a cargo do governo nas duas vezes em que a Tropa de Choque da PM, num ato inimaginável numa verdadeira democracia, invadiu o campus – a mais recente na manhã de hoje -, utilizando de violência desmedida contra estudantes desarmados.
PM no campus
A reação de apoio à ação da polícia, mesmo nas raras vezes em que é expressada de forma polida e educada, evidencia o profundo conservadorismo que marca a sociedade brasileira atual. Trata-se de um paradoxo: no momento mesmo em que 28 milhões deixaram de ser miseráveis e 40 milhões ascenderam à classe média, e que o Brasil tornara-se efetivamente um player na política internacional, o debate sobre questões internas involui não apenas na forma (a difamação e os ataques pessoais substituindo o diálogo civilizado e a argumentação), mas também no conteúdo (com pressupostos que há pouco eram exclusivos de fanáticos de direita tornando-se de uso corrente entre os estratos médios e altos).
Seria preciso uma alta dose de auto-engano para não se aperceber que o país, tanto em termos culturais quanto ideológicos, claramente retrocedeu, se comparado àquele de 40, 50 anos atrás. Não há como comparar o nível das discussões públicas hoje, no Brasil, àquele que se deu, por exemplo, no bojo do processo de redemocratização do país.
Regredimos?
Antes que as palavras aqui ditas sejam distorcidas, cabe assinalar que não se quer com isso, de forma alguma, sugerir que o ambiente da ditadura era mais profícuo em termos culturais e ideológicos do que os atuais. Ainda que isso seja verdade em alguns períodos – notadamente entre 1964 e 1967, hiato que o crítico literário Roberto Shwarz qualificou como os “anos de hegemonia cultural da esquerda” -, isso se deve mormente ao ímpeto antiditatorial de artistas da coragem e do talento de um Chico Buarque ou de um Vianinha.
Na verdade, a crise ideológica e cultural que hoje uma vez mais se agrava tem como origem justamente a ação sistemática da ditadura contra as formas culturais mais autênticas e mais revolucionárias, em prol do investimento vultoso na constituição de uma sociedade televisiva de massas – uma herança que os civis de direita que marcaram o longo período de transição para a democracia só açularam, muitos com proveito eleitoral.
O preço da desideologização
Há uma década, a centro-esquerda tem sido eleita, é verdade, mas, como as eleições que culminaram com a vitória de Dilma Rousseff evidenciaram de forma inconteste, não foi através de uma proposta – muito pelo contrário: tal como o “Lulinha Paz e Amor” de oito anos antes, a hoje presidenta submeteu-se ao regime padrão de marquetagem, chegando, ao final da campanha, ante as baixarias desmedidas de José Serra, a retroceder em questões de suma importância, como o aborto.
É precisamente quando se evidencializa de forma mais clara, àqueles que não se recusaram a ver, que a crise ideológica transcendia as questões colocadas pelo neoliberalismo, as quais dominaram o período imediatamente anterior (e, muitas delas, continuam na ordem do dia), e que a crise cultural, como qualquer crise estética, era também uma crise ética.
“Mas o importante é que eles venceram” – dirá o pragmático. Sim, venceram, mas o preço que a sociedade brasileira como um todo vem pagando por essa recusa em um debate ideológico é uma despolitização da política, uma desideologização da esfera pública que ao final só beneficia os grandes grupos de mídia corporativa, os quais têm como interesse precípuo obter pontos no Ibope, e não levar cultura e educação ao público espectador, como “exige” a Constituição.
Dieta indigesta
A sobreposição do marketing à política e a naturalização das telecomunicações como veículos de entretenimento – seja nas narrativas ficcionais das novelas ou nas narrativas protojormalísticas dos telejornais – certamente desempenham um papel fundamental nesse processo de alavancagem do conservadorismo desinformado, pois não há como evoluir ética e ideologicamente com uma dieta de Datenas, Lucianos Huck, CQCs e coisas do gênero. Um país que, há 11 anos, quase para durante meses para assistir a Big Brother Brasil está profundamente enfermo em termos de ideologia, ética e estética – e negar isso em nome de uma suposta pluralidade democrática de escolhas é tapar o sol com a peneira.
Cada vez que o governo Dilma demite um ministro após um factoide da Veja, está não só estimulando esse jornalismo-denúncia – forte em escândalo mas fraco em evidências -, mas, ao fortalecer a posição da revista ante o público, está, na prática, estimulando a difusão de um ideário conservador que transcende a política e se torna moeda corrente em questões comportamentais e culturais.
É pelas razões acima expostas que já passa da hora dos governos ditos de centro-esquerda renunciarem à ferrugem neoliberal que emperra o protagonismo do Estado na área cultural e tomarem as rédeas de um projeto de elevação do nível educacional e cultural do povo brasileiro, sob a pena não apenas de serem derrotados eleitoralmente, mas de legarem ao futuro um país ainda mais conservador, ignorante e truculento do que o que herdaram.
Caro Fabiano,
confesso que não estou devidamente apetrechado para avaliar esse emblemático (mais uma vez) caso de invasão da USP. Somente agora, com a ação da polícia e depois de ler o seu artigo, fui à procura de outras opiniões para, ainda assim com bastante cuidado, dar uma ou outra opinião.
Em primeiro lugar, pelos anos de embates políticos que a vida me proporcionou, e pelos inúmeros casos históricos a respeito, a frase POLÍCIA INVADE UNIVERSIDADE ou similares, me dão frio na espinha. E o pretexto, confesso, normalmente não se justifica.
Como atualmente é difícil avaliar a realidade dos fatos através da imprensa (tvs, rádio, jornais e revistas), pois a imprensa se partidarizou, pior, assumiu de vez a luta de classes e se colocou definitivamente em defesa de seus próprios interesses e de seus anunciantes (quando o leitor deveria estar em primeiro lugar), é arriscado tomar partido, sem antes saber exatamente o que se passa no dia a dia do confronto.
Posso dizer, sem medo de errar, no entanto, que nos dias de hoje é cada vez mais tênue a linha que divide as reinvindicações justas, democráticas e progressitas de algum anarquismo sem maiores fundamentos ideológicos. Como também é muito tênue a linha que divide o moralismo do fascismo.
É sempre bom recordar aos da sua geração que o golpe de 64 tinha metade das suas palavras de ordem sustentadas pelo moralismo católico conservador e que levou milhares de pessoas às ruas a apoiar, digamos assim, a invasão do país pela PM (leia-se militares + USA). E deu no que deu.
Apenas para reflexão, pergunto: todos os estudantes presos são maconheiros? Os funcionários que apoiaram a resistência são bandidos? A Polícia Militar tem algum preparo no trato com estudantes, universitários ou não? Numa democracia, é na porrada que se resolvem as diferenças? Venha ela, a violência, dos estudantes ou da polícia?
Bom, eu teria que saber muito mais do que está acontecendo por lá para avançar em outras questões.
Por último, e não me queira mal por isso, “comunidade uspiana” tem para mim uma indisfarçãvel conotação elitista.
Grande abraço,
Izaías.
teste
Infelizmente, a maneira como os 0,06% de alunos da USP (ditos ‘estudantes’) reagiram mostra que existem pessoas que agem por instinto, como na época dos Neanderthais.
A parceria da USP com a PM visa a segurança do campus. Dizem que a policia anda abusando das revistas em grêmios e CA’s, mas convenhamos que esta juventude atual abusa da liberdade de uso de drogas, e não é de pouco tempo isso. Logo, os centros acadêmicos são o principal local de cruzamento entre bons e maus elementos.
Este convivio de acadêmicos com drogas atrai o submundo do tráfico para dentro do campus. Quem dera pudessemos alcançar a utopia de ter uma sociedade livre deste mal. Porém, é nossa obrigação lutarmos para que este sonho se realize PELO MENOS dentro da maior e mais importante universidade da América Latina, centro de produção da ciência nacional.
Ninguém foi convidado para estudar na USP. Só é possível usufruir desta dádiva pública através de provas e exames. Quando alcançamos o direito de utilizar aquele espaço público, devemos fazer valer a pena estar lá, estudar, produzir e participar do progresso da nação.
Quando estes arruaceiros protestam utilizando a violência e autoritarismo, automaticamente estão excluidos do perfil do acadêmico uspiano que a sociedade espera e banca (através de impostos).
Se a PM deve ou não ficar na USP, deve ser debatido pela SOCIEDADE, e não decidido por menos de uma centena de mimados barbados com IDEOLOGIA DE JARDIM DE INFÂNCIA.
Não sou a favor da violência e autoritarismo, mas está nítido que faltou umas boas palmadas e broncas na infância destes infantes.
Vamos aos fatos, sem a variável subjetividade:
1 – Há cerca de 10 dias houve uma manifestação discente acerca do episódio PM x maconha.
2 – Em votação aberta e democrática, a maioria decidiu pela NAO invasão da reitoria.
3 – Uma minoria, que não sabe conviver com derrotas, unilateralmente e autoritariamente ignorou a decisão da maioria e invadiu a reitoria
4 – Esta minoria entende que o DCE estaria nas mãos da “direita”. (O DCE atualmente é composto por membros ligados ao PSTU)
5 – As imagens da invasão mostram que a primeira atitude dos invasores foi a de quebrar as câmeras internas de segurança
6 – Os invasores, após aprovada juridicamente a reintegração de posse, solicitaram mais 48 horas, porque não conseguiriam reunir a cúpula no final de semana (!!!!)
7 – Ficou acordado entre as partes (invasores e USP) que estes sairiam do prédio na segunda-feira, 23:00.
8 – Os invasores quebraram o acordo, e lá permaneceram
Pois bem, estes são os fatos.
E dá pra piorar: alguns destes invasores se comparam `aqueles que realizaram manifestações em 68. Será que os de hoje imaginam o real perigo dos de outrora? Dá pra comparar os riscos de 68, no auge da ditadura militar, DOPS, Doi-Codi, Oban e afins com agora? Será que dá para comparar o que se reivindicava naquela época com o que se reivindica hoje???
Não tenho dúvidas que a USP não é um território de exceção, e que a lei vigente dentro da USP deve seguir a risca a lei to território brasileiro. Como poderia ser diferente?
Também, acho difícil discordar que o grupo que invadiu a Reitoria abusou do direito de se manifestar, pois poderia fazê-lo sem interromper o andamento do principal centro de gestão da universidade, há pouco tempo reconhecida como a mais importante universidade da América Latina pela revista The Economist.
Só é preciso tomar cuidado com a generalização que todos os docentes e alunos da FFLCH são contra a PM no campus e o uso indiscriminado da maconha, e que todos fazem e apoiam greves indiscriminadamente. Nas redes sociais essa visão preconceituosa da FFLCH é muito presente.
A minha percepção é que nessa unidade diferentes tribos convivam, algumas parecem sem uma causa nobre ou pelo menos sem meios sensatos para contribuir para a sociedade. Certamente temos pessoas mais sensatas na sua forma de manifestar.
Há poucos dias se criticava as ONGs associadas ao Ministério do Esporte, e mais uma vez corremos o risco de rotular todas as ONGs como corruptas. A internet realmente é perigosa, pois a crítica a um determinado caso pode se espalhar com uma verdade tão nefasta como o fato que originou a revolta.
Prezado Fabiano:
Acredito no positivismo jurídico. Admiro Hans Kelsen, jurista austríaco que tentou demonstrar o Direito como Ciência e nos deixou a “Teoria Pura do Direito”, obra que exclui do conceito de seu objeto (o próprio Direito) quaisquer referências estranhas, especialmente aquelas de cunho sociológico ou filosófico.
De acordo com o artigo 1º de nossa Constituição, o Brasil é um Estado Democrático de Direito; um país com ordenamento jurídico posto e válido, com normas justamente legitimadas por uma Constituição. A cidade de São Paulo, mais especificamente a Universidade de São Paulo – Câmpus da Capital, está DENTRO deste país e, desta forma, está sob vigência de todas as leis da Constituição e das demais dela originadas.
Ora, de onde vêm este argumento, esta solicitação de “território livre”? Território livre prá quê? Prá desrespeitar aquilo que deve ser respeitado por todos que vivemos nos limites territoriais do país? O que quer esta ínfima parcela da comunidade discente da USP? Instaurar uma nova nação, quiçá um novo Estado DENTRO do território brasileiro? O que desejam: fumar maconha nos gramados da FFLCH, praticar abortos no HU? E a polícia NÂO PODE fazer cumprir a LEI?
Não entraria na discussão da legalização das drogas ou do aborto, assuntos polêmicos dos quais tenho minha própria opinião. O foco não é esse. Advogo, neste momento, a favor da “Dura Lex, Sed Lex”. Se a lei é dura, se está em desacordo com os costumes e as expectativas coletivas, que se lute para MUDAR a lei; mas legitimem a mudança; alterem o ordenamento posto pelos mecanismos legais (dispostos e explícitos em nossa Constituição). Isso é democracia.
Por fim, teço minhas considerações a respeito da Democracia, da vontade da maioria. Estas poucas dezenas de alunos que ocuparam a reitoria, que depredaram o patrimônio PÚBLICO: eles representam a vontade da MAIORIA dos estudantes da USP? Eles expressam aquilo que todos nós, uspianos, acreditamos ser o mais correto? Certamente não!
Defendo segurança nas ruas, nos parques, na universidade. Defendo o direito de ter uma polícia preparada, treinada, eficiente.
Defendo o direito de cumprir com minhas obrigações e de usufruir de meus DIREITOS. Democraticamente. De acordo com o ordenamento jurídico vigente, que deve ser comum a todos, sem regalias, sem distinções.
Espero que estes estudantes sejam tratados como pessoas normais. Nem mais, nem menos. Que sejam presos. Que paguem fiança. Que sejam processados, com amplo direito de defesa. Mas que, após justo julgamento, que respondam de acordo com o que estiver previsto na LEI. A despeito de qualquer posicionamento político-partidário. A favor da segurança jurídica; a favor do Estado Democrático de Direito brasileiro.
Um grande abraço.