Sobre o ensino de artes e técnicas de representação e expressão, em especial pinturas e ilustração nas faculdades de arquitetura e urbanismo e de design (mas creio que vale para muitas outras formações e não apenas universitárias).
Num momento em que o instrumental mecânico-digital começa a atingir sua maturidade e efetivamente participar e interferir no processo criativo e de elaboração do projeto em todas as escalas, mais importante ainda se tornam o artesanato e a expressão artística e o conhecimento e o domínio de suas técnicas.
O fascínio e a hipervalorização das máquinas que seduziu a Humanidade pós revolução industrial desde o final do século XVII vem sendo contrabalançado pela maravilha e excelência do gênio humano, que as supera e as reinventa constantemente. O que só é possível graças ao conhecimento de base, do elementar, do seminal.
Não é o conhecimento de ponta que produz a inovação, é a consistência e a amplitude do repertório de base do empreendedor, do pesquisador, do artífice, do trabalhador, do intelectual. É sua capacidade de cognição e o seu conhecimento geral como combustível.
Ambos se ensinam e se aprendem.
Por isso o risco contemporâneo, em especial aqui neste cestinho de mundo, não está nas máquinas. Estas existem para nos ajudar, para nos auxiliar e mesmo para nos libertar.
Está, sim, no sistema de ensino, nesta não leitura superficial e neste não estudo das metodologias construtivistas e pedagogias ativas aplicadas com um grau de ignorância e ‘chute’ que se aproxima do irresponsável.
Está na demagógica e simplista asserção de que o aluno simplesmente aprende, num processo quase osmótico em que o mero contato com a informação por milagre a transforma em conhecimento.
Está em organizar os cursos com foco não no aluno médio mas nos ‘bons alunos’, aqueles que por circunstâncias diversas já se apresentam com um currículo oculto e uma capacidade de cognição mais desenvolvida, o que reflete e reforça uma mentalidade elitista que permeia todo o sistema.
Ninguém nasce sabendo. E ninguém aprende sozinho.
Valter Caldana