Desculpa aí, foi mal…

ou a diferença entre desculpa e confissão

Uma das coisas que incomoda quem não é petista mas nem por isso e nem por eles deixou de ser contra o impeachment da presidente Dilma e se manteve solidário durante todo este período da mais explícita “porradaria” é que não houve um gesto ou declaração sequer, oficial, de pedido de desculpas para a sociedade.

E olha que parece que já houve um Congresso do partido neste meio tempo.

Não se trata de pedido de desculpas pelo que acreditam não terem feito. Mas, se inocentes são, então um pedido de desculpas por terem sido tão soberbos (ou ingênuos) a ponto de escorregarem em todas as casacas de banana que encontraram pelo caminho.
E, também, por caírem nas mais simples armadilhas do feroz jogo político brasileiro desde sempre.

Continua a espera por uma auto-crítica severa daquele que sábia e corretamente disse um dia “nós, nós não podemos errar”.

Pedir desculpas é confissão de erro, não é confissão de crime.

Ao contrário, o pedido de desculpas pelo erro torna inclusive mais crível a presunção de inocência do crime pois delimita os erros no campo em que devem estar. Erros. E os crimes no campo em que devem estar. Crimes.

Nem a soberba (manter Roberto Jefferson esperando por quatro horas na ante-sala pública do gabinete do ministro) nem a ingenuidade (‘articular’ um alvará de soltura com o juiz sem ‘articular’ com o carcereiro) são necessariamente crimes. Mas são erros. E entre estas duas pontas muitos e muitos outros erros, e também crimes, foram cometidos.

O fato é que as eleições estão chegando e é óbvio que, mesmo na situação em que se encontra o PT é um dos agentes mais importantes dela. Fez por merecer estar nesta posição, ok.

Mas não pode achar que ainda estamos em 1982 quando manteve Lula candidato a governador para alavancar o partido, nem em 1985 quando manteve Suplicy candidato a prefeito em nome de uma tal pureza (o vice de FHC era o Caio Pompeu de Toledo) e acabou elegendo o Jânio.

Muito menos estamos em 1988 quando ainda se podia fazer pirraça e não assinar a Constituição ou mesmo logo depois ao se recusar a participar do Governo Itamar, expulsar Erundina e ser contra o Plano Real. (Notar que pulei a eleição de 89).

Não dá mais para fazer análise de conjuntura na primeira pessoa do singular. Não dá para jogar de salto alto quando a sandália já se foi.

Estamos em 2018, em meio a mais grave crise institucional que o país passou nos últimos 55 anos e diante de uma eleição geral. Eleição esta que está se definindo esta semana.

Ou o PT, com tudo isso que passou e o Brasil tem passado junto, aprende a não brincar sozinho ou vai, isolado, se tornar revel na sua própria existência.

Valter Caldana
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