Fascista! Comunista!

A dificuldade, verdadeira incapacidade, de lidar com o contraditório em seus projetos de ação, de poder, a meu ver, fez com que liberais, fascistas e comunistas de várias escolas fizessem a prática, e não a praxis, sobrepujar e conspurcar as ideologias, tornando-as de impossível convivência na plenitude democrática. Feneceu a ideologia, restou a prática autoritária, não raro assassina.

Infelizmente, ao longo da História, inclusive no Brasil, na primeira metade do século XX liberais, sociais-democratas e socialistas acabaram fagocitados pelas práticas políticas dos partidos fortes, que nos colocaram em duas guerras mundiais, mantiveram o islamismo sob ferros e a China sob pressão.

Liberais e a direita amplo senso acabaram considerados alinhados ao fascismo e os demais ao comunismo. Na segunda metade, sobretudo no terceiro quarto, estas alianças, não se pode esquecer, na prática provocaram as ditaduras na América Latina, os males da extensão final do colonialismo na África e o subjugo das sociedades do leste europeu.

De quebra, criaram uma série de estigmas e falsos arquétipos nos quais parcelas significativas de sociedades menos sofisticadas do ponto de vista crítico creem sem grandes questionamentos até hoje, tais como achar que pessoas de direita ou liberais sejam fascistas e pessoas de esquerda ou social-democratas sejam comunistas.

Alimentam o pavor, por exemplo, de uma tal revolução bolivariana na América Latina e fazem com que não se perceba que paralelamente a tudo isto surge a figura do líder populista, alteração genética do líder popular, que encarna sempre o que há de pior nos sentimentos da sociedade premida, atônita diante da força de suas necessidades básicas.

É o caso de Chaves na Venezuela que tantos tentam classificar de comunista ou coisa parecida, alguns líderes do terceiro mundo europeu ou norte africano e, vejamos no que vai dar, Bolsonaro no Brasil.

Valter Caldana

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