ou mais uma eleição virá
e nada mudará
Acredito que São Paulo seja uma cidade minuciosamente planejada e perversamente mal desenhada.
É planejada para ser exatamente como ela é, seguindo a lógica do mais puro extrativismo urbano, da ocupação de terra barata, do espraiamento e da exclusão. É planejada para que ganhem os que ganham. Custe o que custar.
Ou alguém acha mesmo que isto tudo, a retificação dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, o tamponamento desenfreado de córregos, a construção das marginais, a abertura das grandes avenidas de fundo de vale cada vez mais largas e longas, indo a lugares cada vez mais remotos, a extinção dos bondes e a implantação de uma malha de transportes sobre pneus e movida à diesel, a lentidão da implantação do metrô (que ficou parado de 1920 a 1968 e depois de 1980 a 1994, quando suas obras recomeçaram, na velocidade que conhecemos) aconteceu e acontece de modo isolado, aleatório e espontâneo? Sem planejamento. Sem obedecer a uma lógica e uma claríssima e objetiva visão conceitual do que é, para que serve e como deve ser construída a cidade?
Isto sem falar do Plano Prestes Maia, rigorosamente vigente até hoje e introjetado em nossa visão urbanística, em que pese os esforços do PUB (1968) do PDE de 1885 e do PDE de 2014. Não por acaso ele sempre vence…
Não é sem planejamento, ou por acaso ou por coincidência que a Lei de Zoneamento tem a mesma estrutura desde 1972!!!! E hoje pouco tem a ver com o PDE do ponto de vista conceitual. Nestes 50 anos, meio século, só é alterada pontualmente, para ajustar-se a necessidades conjunturais do planejamento estrutural.
Insisto nisso há muito tempo. Enquanto se reproduzir esta ideia cômoda, equivocada e autoindulgente de que a cidade cresceu sem planejamento, o modelo de desenvolvimento urbano paulistano nunca será efetivamente alterado. Será sempre discurso oco ou intervenções perfunctórias, paliativas e graciosas (ainda que necessárias).
Os PIUs, que poderiam ser (e deveriam ter sido) um instrumento para se contrapor e amenizar a dureza, a rudeza e a crueza da materialização deste planejamento, propiciando a realização de intervenções locais baseadas em projetos na escala humana foi rapidamente fagocitado e transformado em apenas mais um instrumento para a perpetuação do modelo…
Os planos de Bairro nunca vieram, os Projetos Locais tampouco… Ao contrário, se investe em Planos Setoriais enormes, em Planos Regionais (2004) imensos…
Voltando ao início…
Basta ver o que aconteceu com a Rebouças e o que não aconteceu com o arco Tamanduateí. Basta ver o que aconteceu com a Operação Urbana Faria Lima e o que não aconteceu com o Projeto BairroNovo na Água Branca…
Basta ver a triste insistência na revisão precoce e prematura da Lei de Zoneamento. Tudo isso segue um script que está escrito há quase um século, pelo menos 90 anos…
Bem planejada, mal projetada e pessimamente construída…
Esta é uma boa conversa para ano eleitoral…
Pena que o assunto não vai ser este.
E o planejado, seguirá intocado.
Valter Caldana