Estou preparando um material para uma apresentação sobre os efeitos da pandemia nas cidades brasileiras e italianas e me ocorre o seguinte…
Daqui a alguns meses, assim que terminarmos de contar os cadáveres e de prantear os mortos, nos daremos conta que temos a obrigação de explicar como pudemos chegar nesta situação, que só não terá sido pior pois o governo de São Paulo e da capital agiram com razoável competência, apesar dos esforços contrários da própria sociedade.
Na ocasião ficará claro que a desigualdade, da qual falamos insistentemente (em coro com muitos outros laboratórios, pesquisadores, instituições e pessoas) será uma das maiores vilãs.
Mas não bastará apontar. Teremos que mostrar e demonstrar.
Não vai adiantar ficar no discurso quase piegas e bem óbvio que apontará que há discrepâncias gritantes na distribuição espacial e territorial dos equipamentos de saúde. Seria até desrespeitoso com a memória dos que se foram.
Tampouco será questão de gritar que a rede pública é menos preparada que a rede privada. Primeiro por que isso não é um fato absoluto. Segundo r que o problema da rede pública é menos de qualidade e mais de quantidade.
E, por fim, equívoco dos equívocos, se tentará colocar boa parte da responsabilidade na questão da densidade, em números absolutos. Discussão que tenderá a ser inócuo, improdutiva e, já chamando para a briga, conservadora e tendendo ao reacionarismo.
Assim sendo, entendo que contribuiremos efetivamente com o processo e faremos alguma homenagem aos que tombarem nesta tragédia se encontrarmos um número puro que demonstre cabalmente para a sociedade o papel da desigualdade na mortandade. E, o que é sempre importante nas argumentações com nossa sociedade fria, a influência desta mortandade causada pela desigualdade na composição dos prejuízos econômicos sistêmicos causado pela pandemia.
Estamos começando este estudo, que faremos com o apoio imprescindível do Lincoln Paiva (ele ainda não sabe, é um convite público) que adora torturar números como eu e dos número compilados pla prefeitura e pelo Jayme Serva.
Aceitamos outras contribuições!