ou que não entre quem não for geômetra
Não é de hoje que venho dizendo que o Brasil paga caro por conhecer pouco, muito pouco ou quase nada de geometria.
Já há um ano que a turma que elegeu o presidente por ação e/ou omissão está insistindo na história da terceira via. É a sua forma sutil de pedir desculpas pelo que fizeram. É uma espécie de promessa de que não vão cometer o erro de não eleger o Alkimin (vixe, agora complicou), ou o Meirelles, ou o Amoedo e terem preferido explicitamente eleger o presidente e seus valores e promessas.
É interessante ver como neste discurso cenário da terceira via, bastante bem aceito neste grupo de eleitores ativos e passivos do presidente, há um pressuposto subentendido de que esta candidatura seria de centro, o que traz uma certa autoindulgência e uma autoconfirmação do discurso de que ‘na outra eu fui Inganado, pois eu sou de centro e liberal’.
Bem, se fôssemos melhor versados ou letrados em geometria, mesmo a plana euclideana, mais simplesinha, deixemos platonismos de lado, saberíamos que o meio e o centro não são a mesma coisa.
Saberíamos mais. Saberíamos que uma terceira via que se situe entre duas outras não tem absolutamente nenhuma relação nem com o meio, e muito menos com o centro.
Para que se encontre o meio, é preciso definir quais são as pontas. E, depois, para verificar se o meio é o centro, é preciso que se defina o universo (no caso a própria política), o conjunto onde se situam as pontas. Aí daria para verificar se, veja bem, se o meio é no centro…
Aparentemente, smj, terceira via que se desenha vem se firmando como um esforço hercúleo, comovente, porém até o momento (a menos de um ano da eleição) infrutífero da direita e da centro direita encontrarem uma alternativa que, ao menos, cubra com um pano quente (já que fechar não dá mais) a caixa de pandora que abriram sem dó nem piedade ou prudência na última eleição presidencial.
Ou seja, se fôssemos mais equipados em conhecimentos geométricos saberíamos que a terceira via não é de centro, é de direita e liberal. E, mais, saberíamos que isto não seria um problema, certamente, se fosse explicitado e enunciado claramente para a sociedade.
O problema nasce, na verdade continua, quando tenta se mostrar como o que não é. O que, como se vê no Brasil, é fácil e encontra plateia ávida por ser enganada. Mas, se mostra um grande problema logo em seguida. Trata-se aqui de uma equação que já ganhou status de teorema e vem, dramaticamente, se transformando num axioma.
Não obstante, neste contexto, retornando o foco à terceira via e seu geoposicionamento, o resultado disso tudo é que nenhuma candidatura desta via empolgou até agora. Pode até aparecer um ator, apresentador de TV, figura caricata ou coisa parecida que ocupe a vaga e empolgue eleitoralmente, incensado pelo momento, pelos meios de comunicação (que, afinal, são os tambores que difundem estas versões) ou por estruturas perversas de grupos de zapzap ou “fake news”. Mas, parece cada dia mais difícil.
Donde, está me parecendo que esta conversa toda de terceira via esteja se tornando apenas uma etapa de um diagrama de passos, protocolar, a ser cumprida para que estes eleitores do presidente possam declarar a si mesmos e aos seus, em alto e bom sussurro docemente constrangido que “se não tem tu, vai tu mesmo”. Com isso engrossando o caldo da sua reeleição.
Uma etapa importante para que possam jactar-se de seu límpido, profundo e complexo posicionamento, sintetizado na expressão máxima da política urbana nacional, como já se viu outras vezes: “nestes dois aí não voto mesmo!” Axioma que tem como corolário… bem, mmmmm, olhe pela janela (ou pela boca da caverna) e veja em volta de si o corolário. Mas, olhe de olhos abertos.
Ou seja, no Brasil, nestes quatro anos, tudo mudou.
Mas, nada mudou.
A hipotenusa continua sendo menor do que a soma dos catetos, que continuam sendo a preferência nacional. Mesmo que seja no centro do rolete.
Ou, lá mesmo.
Valter Caldana