BANCADA DA CIDADE

“A cidade ficou sem uma ‘bancada da cidade’ na Câmara.”
Não bastasse este anúncio do post do ano passado, o que temos hoje é que quem conhece o assunto e poderia estar defendendo as conquistas do Plano Diretor resolve dar mais dois anos de passe livre / tarifa zero para quem faz seu uso equivocado… O que, incluindo o ‘ano corrente’ de 2021, que já foi, leva o tempo total doado para, no mínimo, três anos.
Com isso, se abre mão do plano, de suas conquistas, de suas estratégias e objetivos ao se inviabilizar sua revisão específica no que tange aos instrumentos mal redigidos e à não elaboração dos Planos de Bairro, elementos sabidamente imprescindíveis para que funcione em sua plenitude.
Reposicioná-los, dar-lhes a atenção, o destaque e o papel que precisam ter no no sistema municipal de planejamento do desenvolvimento urbano preconizado a partir de 2014 seria o caminho certeiro e eficaz para coibir e evitar as aberrações que estão sendo construídas em nome do PDE nos bairro consolidados.
São aberrações não por suas presenças individuais, de que não trato especificamente aqui, mas por seu conjunto, que vem gerando a gritaria e o horror de tantos cidadãos da classe media bem formada paulistana. E, diga-se bem alto, a plenos pulmões e todas as letras, TEM TODA RAZÃO!!!
É assustadora, além de caricata e reveladora, a interpretação que se conseguiu fazer do Plano, corroborada e sustentada pela Lei de Zoneamento, cuja elaboração foi convenientemente abandonada à época pelos formuladores do bom plano.
Vale lembrar que esta interpretação “elástica” é corroborada e propiciada, também e principalmente, por uma série de instrumentos importantes, necessários, inovadores alguns, porém mal redigidos que se encontram no plano e foram colocados como autoaplicáveis…
Hoje, dando um cavalo de pau nos objetivos de adensamento do plano a partir da clássica confusão entre densidade e altura, para proteger os bairros consolidados se ataca o Plano em si, em sua totalidade, pregando-se abertamente sua rediscussão desde o início: “qual que cidade queremos”, como se isso não houvesse sido profundamente discutido em sua elaboração. Vamos fazer de novo! Vamos fazer outro, e outro, e outro…
Mas, o que mais me incomoda, além de me sentir um otário, claro, é que se abre mão de dar o passo necessário para colocar São Paulo no início do século XXI… ao menos no finalzinho do XX.
Aliás, deixando bem claro, o que se vê hoje, a entrega de bandeja do Plano e seus objetivos, começou, realmente, no dia em que se abriu mão da limitação de vagas de garagem nos corredores.
Ali, naquele momento, eu mesmo anunciei: se abriu o buraquinho no dique.
E seguiu celeremente quando, em seguida, se abriu mão de uma revisão estrutural no zoneamento e se optou por maquiar de novo o de 1972 e, completando o quadro, se abriu mão de estabelecer metodologias para os Planos de Bairro, incluindo datas de elaboração e apresentação.
De quebra, se ignorou as propostas de acompanhamento e valoração da aderência dos empreendimentos aos objetivos do Plano.
Mas, o que mais lamento, é assistir este esforço todo deste ano, estas aliança esquisitas todas, para uma aparente defesa da ambiência dos bairros consolidados (sim, eu também moro num deles) e, no corolário, manter a cidade marginal (não periférica, “pelamor”…) à margem do marco regulatório.
A cidade não tem 4.000.000 de habitantes no entre rios. Tem 12.000.000 de habitantes e vai de Itanhaém a Mairiporã!
Lamento saber que os avanços conseguidos no sentido de uma possível inclusão, etc. e etc. vão sendo abandonados inclusive por quem os defendia à época.
Ao se propor a rediscutir tudo de novo, se finge não saber que não é no executivo a batalha, é no legislativo… O que me leva ao post que o Al, solidário, me relembra nesta tarde…
Perdemos a bancada da cidade…

Valter Caldana

This entry was posted in cotidiano. Bookmark the permalink.

Deixe uma resposta