Ainda sobre Marte

Um amigo considera que, ao fim e ao cabo, melhor mesmo que o Campo de Marte fique com o governo federal.
É uma visão necessária. Quando ele comentou isso, escrevi algumas considerações para avançarmos na conversa.

Caro,

Interessante e importante este seu texto!
Cheguei a trilhar este caminho inicialmente, inclusive como tentativa de aplacar um pouco a sensação de desesperança gerada em mim por um erro tão primário e estratégico como esta negociação e o que ela significa para o futuro da cidade. Pensei eu – cheguei a escrever – ao menos, que fique tudo como está, menos mal. O futuro – melhor que hoje – dirá o que virá e, lá adiante, quando tiver que recomprar partes da área, não será a primeira vez que a cidade pagará duas ou três vezes para ter o que lhe pertence de direito.

Mas, … oh três letrinhas de esperanças e desesperanças, o Campo de Marte está agora sujeito a dois programas, o de privatização de áreas e imóveis públicos federais e o de aeródromos e aeroportos.

Sem entrar no mérito destes dois programas, pois não é o assunto aqui, o que se passa é que em ambas as possibilidades o destino da área no curto prazo terá enorme impacto sobre São Paulo e a Região Metropolitana, em especial negócios e arrecadação, mobilidade, habitação, saneamento e meio ambiente, sem que o município – agentes públicos e privados – tenha a possibilidade de atuar de maneira coordenada ou agregando valor.

A possibilidade maior, ao que parece, é fazer alterações na rampa de acesso à pista no curtíssimo prazo para já aumentar o gabarito nos cones de aproximação, o que alivia a pressão vinda de uma parcela do mercado imobiliário, e libera a disputa interna federal que haverá em torno do que fazer com a pista. A tendência é simplesmente passá-la nos cobres sem agregação de valor, e vendê-la no atacado (outro erro) como foi muito bem apontado por você, com a gleba na Barra Funda.

A tristeza continua com a constatação de que as três esferas de governo são impenetráveis para a ideia de que terra pública tem valor de face diferente do seu valor estratégico e eles não conseguem enxergar a extensão dos valores agregados a este tipo de patrimônio. E vão dilapidando como quem mata diariamente galinhas dos ovos de ouro, come os ovos que tinha e ainda por cima quebra os dentes.

Desculpe a resposta longa, sobretudo hoje, dia de festa, mas tomei a liberdade.
Aproveito para mandar um beijo para vocês e feliz 2022!!! ”</p

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