RIQUEZA. ALMA, MEMÓRIA E CARÁTER

Ministério da Educação e Saúde à venda por falta de uso.
Estou na dúvida se torço por uma solução tupiniquim e que seja comprado pelo SESC-SP (mas não dá, é no RJ…), pelo Centro Pompidou ou pela Fundação Guggenheim. A Gulbenkian seria bacana também.
No entanto, vai mesmo é acabar sendo comprado por um banco, ou, com ‘sorte’, por uma multinacional da educação. Ou vai encalhar, pois vai ser considerado pelo mercado mais um mico tombado pelos radicais do patrimônio histórico, que só dá trabalho e não se viabiliza em nenhum modelo de negócio.
Agora, de verdade, eu torço, mesmo, é para o edifício ser desmontado e levado para algum lugar distante, belo, humano, onde possa ser remontado, valorizado, desfrutado e protegido do vandalismo ético, moral e físico a que está submetido.
Esta seria uma linda operação tecnológica de resgate do edifício e seu significado material e imaterial, ainda mais simbólica do que a sua própria colocação à venda como um entre 2.500 itens encontráveis numa bacia – ela própria também simbólica – colocada numa liquidação chamada Brasil.
Vale alertar, leitor, que este estranho desejo, o desterro do edifício, vindo de uma alma nacionalista, um quase Policarpo, bem Quaresma, como a minha se explica…
O simples fato de ter sido colocado à venda pelo Brasil indica que ele não pode mais ser considerado brasileiro. Como tenho dito, temos que assumir nossa indigência ética e cultural e a dura realidade de que não temos capacidade de ter e manter o que nossos antepassados nos deixaram, e o que a natureza nos provê.
Aliás, o resto do planeta já está jogando isso na nossa cara, questão amazônica à frente.
Mas, enfim, neste meu delírio matinal, desejo muito poder ver o edifício embarcando pedra a pedra, brise a brise, num vapor partindo do Píer Mauá.
É muito melhor e mais simbólico este sonho delirante do que suportar a dor da realidade de vê-lo transformado numa caricatura sórdida, antítese de tudo o que representou para o país e o povo brasileiro. Um povo que um dia foi capaz de concebê-lo, construí-lo e usufruí-lo, num determinado e breve período histórico de sonho e realização.
O crueza dos fatos é que ser um testemunho deste país e uma homenagem a educação e a saúde, abrigando-as num dos primeiros edifícios modernistas construídos no mundo, não poderia mesmo ser suportado pelo projeto do fazendão desnacionalizado e sem identidade que vige nestas paragens. De apenas tolerado ele se torna indesejado. Descartável. E subversivo.
Entretanto, ele estará sempre na memória, na alma e no caráter de alguns (poucos?) brasileiros e brasileiras, interessados em construir uma Nação e sua riqueza.
Assim sendo, símbolo maior de um país urbano nascente e sonhador, símbolo de um país que poderia ter sido, e que agora fenece, que você parta em paz e digno, Ministério da Educação e Saúde, Palácio Capanema.

Valter Caldana

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