A minha primeira contribuição para o Debatendo é sobre um livro que li há pouco tempo sobre a China do pesquisador sino-australiano John Lee chamado “Will China fail?” (A China Falhará?). Leitura recomendada para aqueles que querem entender o que está acontecendo no Império do Meio… Ao contrário da maior parte dos analistas que fala da inevitabilidade da ascensão chinesa como potência econômica e política, ele aponta para as contradições políticas e econômicas crescentes que a China vive e questiona esta afirmação com veemência.
No ponto de vista econômico, o autor demonstra como as altas taxas de crescimento econômico são produzidas e tendem a ser insustentáveis no longo prazo. O país possui uma alta taxa de investimento – 40-50% do PIB (a do Brasil está abaixo de 20%) - que provocam aumento da capacidade produtiva e consequentemente do crescimento da economia.
O problema é que estes investimentos não apresentam retorno e são feitos de acordo com critérios muito mais políticos do que econômicos. Assim sendo, muitos destes projetos tendem a não conseguirem pagar seus empréstimos e fazem que o sistema bancário chinês tenham um índice elevado de empréstimos em atrasado (concentrados nas empresas estatais chinesas) e que só não entra em colapso devido ao elevado nível de poupança dos chineses e o controle rígido dos fluxos de capitais.
Politicamente, ele lembra que a população chinesa tem se mostrado cada ve mais incomodada com as disparidades existentes entre campo e cidade, ricos e pobres, entre a elite dirigente (leia-se nomenclatura do PC chinês) e o resto da população.
Por que isto nos afeta? O Brasil foi um dos países que mais se beneficiou da ascensão chinesa sendo o maior destino de exportações brasileiras e causador, junto com a política monetária expansionista americana, do cenário de tranquilidade nas contas externas que passamos desde o início da década passada…
Nenhum país teve um processo de crescimento sem soluços e interrupções e a China não será diferente. O difícil é saber quando. O forte controle do governo e a ausência de estatísticas confiáveis dificultam ainda mais esta previsão…
Por outro lado, o maior movimento de urbanização ocorrido na história da humanidade deve gerar prosperidade econômica e consequências econômicas que não podem ser subestimadas. São centenas de milhões de pessoas saindo do campo que demandarão toda forma de produtos e bens que não eram consumidos e ofertando mão de obra barata para os próximas décadas…
Não nos esqueceçamos que a civilização chinesa, nos últimos 2.500 anos (com raros e curtos hiatos) sempre esteve na ponta. Talvez estejamos diante de um reestabelecimento da regra…
É mais fácil contar com um crescimento como a China vem obtendo, na casa de dois dígitos, a partir de um nível de desenvolvimento econômico muito baixo, a renda per capita da China é a metade da renda do Brasil (aprox US$ 5 mil na China e US$ 10 mil no Brasil – Economist IU – 2011). Se a China dobrar a riqueza per capita teremos mais 1,35 bilhões (população chinesa) x US$ 5 mil dólares, ou seja, mesmo com a eficiência econômica per capita do Brasil a China tem muito para crescer.
A primeira fase do crescimento pode ser mais fácil, qualquer melhoria simples de processo e de investimento pode trazer grandes retornos. Conforme a economia evolui fica mais difícil conseguir esses saltos de crescimento.
E como se o governo atual tivesse sido capaz de ajudar o país a sair de um estado letárgico para um nível mais razoável de desenvolvimento, mas para caminhar adiante, a qualidade da governança e da gestão serão mais exigidas e provavelmente o modelo de governança chinês terá que evoluir.
O sucesso chinês não será linear, como o sucesso de nenhum país foi até hoje. O que mais me intriga é se a China será um grande país de classe média ou se teremos aquele país com uma pobreza predominante, o que seria muito frustante e temerário para o quadro político e social.