Um conjunto supra-partidário de vereadores apresentou um projeto para transformar o minhocão, gradativamente, em parque.
Uma pena.
O projeto, em minha opinião, é duplamente equivocado.
O problema do minhocão não é sobre, portanto tanto faz se ali estarão automóveis ou floreiras e banquinhos ou um VLT (de verdade, por favor). Já escrevi sobre isto [leia aqui].
E, desativá-lo gradativamente causará muito mais transtorno do que desativá-lo simplesmente, causando confusão, burocratizando o trânsito, confundindo os motoristas…. Será que o minhocão está aberto… está, não está, agora pode? Como acontecia com o túnel de uma mão só e, antes ainda, com a porrrteira da vila tibério lááááá em Ribeirão Preto…
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Seja como for, perdemos mais esta.
Que venha a floreira, afinal minhocas gostam de flores.
E que, um dia, apareça alguém com coragem para entender que o problema do minhocão é no nível cidade, é no chão, é nos espaços públicos que ele destrói, é na enorme área de cidade que ele nos rouba, mais de 3.500.000m² e na possibilidade de voltarmos a ter um centro vivo.
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Na base do jus sperniandi, vale lembrar que o espaço público que teremos sobre o monstro vai cu$tar o mesmo preço da demolição (óbvio) e custará depois a manutenção que, óbvio, será malfeita e incompleta. E nem vou apelar para a dengue pois até lá a vacina estará pronta.
Vale lembrar, também, que se os espaços públicos que ele destrói -
> Largo Padre Péricles
> Praça Marechal Deodoro
> Angélica com Amaral Gurgel (entrada para os Campos Elíseos)
> Largo Santa Cecília
> Amaral Gurgel com São João
> Frederico Steidel e Duque de Caxias abrindo o Largo do Arouche
> Praça Roosevelt
fossem recuperados (obviamente sem suas patas e sua sombra umidificante), num desenho fortemente direcionado para o pedestre, o cidadão, e o uso misto do entorno (3,5 x 4 = 14.000.000 m²) nós poderíamos ter uma cidade que recupera seu centro e seu sentido, deixando de ser um animal acéfalo, ferido por nossa própria insensatez.
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Isto sem falar da hoje possível ligação direta entre o Vale do Anhangabaú e o Mercado da Lapa (Estação Ciência, Tendal, Poupatempo), num boulevard de altíssima qualidade urbanística (basta ter calçada larga e plana, fio enterrado, árvores e espaços de parada, descanso e encontro, com um bonde bem bonitinho indo e vindo…) e passando por todos os espaços públicos que listei acima, incluindo-se aí a gloriosa arena Palmeiras, o Parque da Água Branca, o SESC Pompéia e o Memorial da América Latina.
Esta cidade existe, está pronta e não é sequer vista.
Desperdício não é derrubar o minhocão. Desperdício é não usar esta cidade, que fomos nós mesmos que construímos, não ganhamos de ninguém.
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Mas isso é só jus sperniandi.
ABAIXO O MINHOCÃO, A CIDADE PARA O CIDADÃO
Valter Caldana