Arrocho cerebral

Em plenos anos 20 do século XXI viver sob uma política econômica baseada em arrocho do salário mínimo (e da massa salarial), desvalorização do trabalho e exportação de produtos in natura, o chamado extrativismo mineral e vegetal, é desalentador para alguém que cresceu convivendo com as esperanças da segunda metade do século XX.

Como diz o sábio, espero realmente que me seja dada paciência e não força para os próximos 15 anos, que os jovens de hoje sejam clementes para conosco e que o céu não caia sobre nossas cabeças.

Valter Caldana

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Mais um predinho

Prefeitura cogita fazer
habitação no Paissandu.

A prefeitura está cogitando construir um edifício residencial no terreno onde ficava o edifício Wilton Paes de Almeida, que um trágico incêndio derrubou há algum tempo, inclusive provocando mortes.

Sobre esta ideia vou repetir o que eu disse a uma repórter na ocasião da tragédia sobre o futuro do terreno.

Ali deveria ser feito um concurso internacional para a construção de uma praça memorial que marcasse o evento e, acima de tudo, marcasse uma refundação das políticas públicas municipais com relação à questão da habitação na cidade de São Paulo. Um exemplo é a praça construída em frente ao aeroporto de Congonhas.

Se na praça memorial do centro houvesse alguma edificação, que fosse singela e servisse para organizar um programa simbólico como algum tipo de abrigo para atividades coletivas em geral marginalizadas, que fosse sem portas e sem controles rígidos de acesso e uso.

Construir ali um edifício, habitacional que seja, é a solução mais óbvia e, infelizmente, a mais naturalizadora da tragédia posto que condenando-a ao esquecimento e portanto à insignificância. Vale destacar que a mesma só é realmente lembrada, ainda, pela presença do terreno vazio e seus tapumes.

Além disso, a meu ver, um edifício residencial ali criará três outros problemas correlatos.

Por um lado a demora… Haverá problemas de verba, orçamento, licitação, etc e tal, pela monta dos valores envolvidos na construção de um edifício novinho em terreno tão valioso. Acabará caindo nos caminhos e descaminhos habituais de nossa máquina administrativa. E o esquecimento e a cesta sessão acabarão sendo o destino do esforço, da memória e do projeto.

Por outro lado, talvez menos candente, acabará sendo um desmerecimento ao belíssimo edifício que ali existia e sua importância na história da arquitetura paulistana, pois soará sempre como uma contrafação. Vide o “ground zero” (que expusemos na nonaBia) e a nova torre em Manhattan.

E, por fim, bem forte em termos simbólicos, seria uma espécie de desrespeito à memória da luta por moradia, na medida em que seria impossível se chegar à uma conclusão justa e plenamente aceitável sobre quais critérios utilizar para indicar quais seriam as famílias a ocupar as unidades.

Mas, como não vivemos em tempos salomônicos, se alguém conseguir fazer ali um bom predinho já sairemos todos ganhando.

Valter Caldana

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Malu Mulher

E não é que tem gente apostando que a nova Secretária de Cultura do Brasil se chama Malu?
Insanidade por insanidade, já que confundem atriz com personagem, eu me dou o e ao direito de imaginar uma reunião ministerial com Malu e Damares discutindo casamento, trabalho e controle de natalidade.

Valter Caldana

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É de chorar…

Já estamos em pleno ano eleitoral.

Qual será a candidata ou candidato que conseguirá ao mesmo tempo colocar na pauta e levar adiante as urgentíssimas questões urbanas, na escala humana, desviar das questões nacionais sem provincianismo e, desafio dos desafios, fazer despertar nos cidadãos o sentimento de paulistanidade, aquele que mistura de maneira sublime e quase única no mundo vigor, acolhimento e capacidade infinita de sonhar?

Boulos | Suplicy | Márcio | Bruno | Andrea | Datena | Joyce

Diante dos nomes acima, a resposta me parece facílima…

(e, então, uma lágrima triste escorreu lenta e discreta de seus olhos aparvalhados…)

Valter Caldana

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SUS, a SÓS

ou a eterna reação de
trucidar o que
não se conhece

A política pública na área da saúde é das que mais diretamente impacta na sobrevivência e na qualidade de vida do cidadão.

A participação da Arquitetura e Urbanismo na sua formulação e implantação é essencial. Localização, acessibilidade, fluxos, dimensionamento, custos, capacidade de atendimento, agilização, segurança dos equipamentos e dos usuários, enfim…

Direito à cidade inclui direito à saúde.

Noto pelas conversas com amigos que pouquíssimos sabem que mesmo pagando as fortunas que pagam por seus planos de saúde, todos eles são absolutamente dependentes do SUS. Isto se aplica, inclusive, aos menores procedimentos.

Observo, também, que não sabem que se não fossem usuários indiretos do sistema os preços de seus planos de saúde seriam ainda mais altos, muito mais altos, condenando-os, certamente, a apelar à fila do atendimento público que, então, já não existiria. O atendimento, não a fila. Esta, por certo, estaria ainda maior.

Por questões profissionais, durante anos convivi neste ambiente e estudei arquitetura hospitalar. Ali pude acompanhar e conhecer a importância do sistema. Desde o instante em que o paciente ou sua família chama uma ambulância num momento de desespero, até a hora em que ele usa um equipamento digital on line baseado em energia nuclear, na outra ponta do momento de desespero.

Ademais, acabo de sair de uma experiência fortíssima ajudando a cuidar de minha mãe, em estágio avançado de suas doenças.

Em que pese seu convênio de primeira linha, eficientíssimo e que propiciou toda a retaguarda hospitalar para garantir cuidados e conforto, nestes anos todos por diversas ocasiões tivemos que recorrer não apenas indiretamente, mas diretamente ao sistema público. E sempre fomos atendidos também com muita eficiência.

Utilizamos desde material de consumo até aparelhos respiratórios caríssimos, passando, claro, por remédios que custariam preços que nossa família não teria como pagar.

Santa fila, onde todos são iguais não perante a Lei, mas perante a dor.

Mesmo no hospital, é importante saber que para além do serviço de hotelaria de primeira linha que é garantido pelo sistema privado, muito do que se tem nos bastidores efetivamente médicos tem a participação do SUS pois, afinal, se trata de um sistema..

Voltando à sua imagem pública, é triste que os assim chamados formadores de opinião formem a sua própria baseados nas abomináveis filas de atendimento nas portas de hospitais públicos que vemos e temos notícias cotidianamente. São perversas, são desumanas e são injustificáveis.

Mas, são explicáveis. Facilmente explicáveis. Se devem essencialmente muito mais a problemas de opção, escolha dos governantes e de gestão específica e pontual do que a problemas estruturais do sistema.

Tenho para mim que se tivéssemos, no Brasil, construído para a educação básica, para a habitação e para o saneamento sistemas à semelhança do SUS, com sua universalidade, complexidade e profundidade, hoje estaríamos colhendo outros frutos, saudáveis, ao invés de assistir a esta tosca tragédia terceiromundista a que nos auto condenamos.

Entretanto, não conseguimos passar do PAC, do MCMV e do FUNDEB, sem os quais estaríamos muito, mas muito pior, mas que são primários diante das qualidades do SUS e insuficientes diante de nossas monstruosas urgências.

Porém, tudo isso é, no fundo no fundo, e não nego, intervencionismo.

O que, num país que se descobriu liberal e numa sociedade que considera que carga horária de 14 horas diárias é sinal de esforço pessoal e que cadáveres insepultos nas calçadas são apenas o testemunho de quão vagabundos e fracassados são aqueles pobres diabos a atrapalhar o passeio, isso tudo que escrevi acima é palavrão.

E politicamente incorreto. Que venha a privatização do sistema.

Como sempre, pelo menos alguém vai ganhar muito, não é mesmo.

Valter Caldana

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