Por motivos não especialmente agradáveis andei percorrendo a Faria Lima de ponta a ponta várias vezes nos últimos dois meses.
Fico pensando vendo tudo isso…
Já que o projeto era esse, e isso se sabe há mais de 15 anos, o que se pode constatar é que o desperdício de potencial construtivo e, portanto, de densidade, emprego e renda e arrecadação direta e indireta para a cidade é fenomenal. Não seria exagero falar em 100% ( o dobro de tudo).
Isto se deve, majoritariamente, à turronice e falta de diálogo aberto e franco entre os agentes públicos e privados, econômicos e sociais produtores e agenciadores dos desatinos da cidade que não conseguiram nunca chegar a um marco regulatório que não fosse restritivo, punitivo e medíocre.
Um marco que é escrito ao invés de ser desenhado.
Ou seja, perdemos todos, e muito, bilhões às dezenas, por falta de… PROJETO!!!
Em tempo
O triste é ver a mesmíssima coisa acontecer no corredor Consolacao, Reboucas, Eusébio Matoso, Francisco Morato (Vital Brasil) e, em breve, no Santo Amaro.
É duro não aprender com erros e omissões.
Valter Caldana
Muita gente dizia que colocar o teto de gastos num país que já tem a lei de responsabilidade fiscal seria bom e não afetaria nem o desenvolvimento, nem a manutenção de serviços essenciais.
Pois bem. A gravidade e a longevidade de nossa crise nos anos 1980 se deveu, entre outros, por que nossos acordos com o FMI impediam despesas com infra-estrutura, manutenção e ou instalação.
O resultado prático nós conhecemos. Hoje temos um déficit insuperável em infra-estrutura, a começar pelo suicida déficit em saneamento básico (preste atenção no mone, básico), passando por transportes (continuamos a perder perto de 20% da safra, fora a demora) chegando em portos e coisinhas mais simples.
O teto de gastos faz o mesmo efeito que o ‘acordo’. Nos condena às trevas, à insalubridade e à ineficiência.
Outros diziam que o teto era só um bode na sala para espantar políticos. Em geral, os mesmos que diziam (parece que alguns ainda dizem) que o presidente fala coisas mas não faz, que não é perigoso…
Estes só não notaram que o bode é um leão faminto.
Valter Caldana
É muito comum ouvir uma análise, totalmente ilusória e equivocada por parcial ou de má fé, a escolher, que dissemina uma destas platitudes que nossa sociedade soit disant de bem e ilustrada compra e engole como se fosse presunto e não passa de mortadela podre.
É esta conversa de que a redemocratização trouxe conquistas no campo das liberdades coletivas e individuais e dos direitos sociais mas ficou devendo no campo econômico…
Não seria bom estes analistas incluírem nas suas análises a influência e sobretudo as determinações diretas da ordem mundial, possibilitadas e geradas pela monstruosa dívida externa e seus juros a que estávamos submetidos?
Não seria interessante observar que foi a Democracia que, a duras penas e com o sangue do povo (lembrar discurso de vitória de Tancredo) levou quase vinte anos para conquistar um mínimo de autonomia na área econômica ao zerar contabilmente a dívida com o FMI e se livrar dos acordos?
Ah! Mas aumentou a dívida interna…
Sim, como o fizeram todos os países desenvolvidos, da Alemanha à China, passando pelos EUA…
Ou seja. Vai aqui um apelo aos amigos da área. Ampliem as variáveis de análise.
A equação não é de primeiro grau e zero não é igual a zero.
Valter Caldana
É…
Enquanto JK nos fez evoluir 50 anos em 5, hoje estamos conseguindo involuir 50 anos em 5.
Está tudo tão parecido com a década de 1970 que até os cuidados com a meningite vamos ter que retomar…
A grande diferença é que o sesquicentenário virou bicentenário.
A outra diferença é que os milicos de então eram nacionalistas e fizeram um estardalhaço com a efeméride (meio forçada para ser efeméride).
Na ocasião eu, menino novo, aprendi o que significava sesquicentenário e também o significado da palavra despojos (que, depois entendi, não se aplicava só aos do D. Pedro I).
Os de hoje, não os despojos, os militares no poder, como passam a milhas e milhas do nacionalismo saudável ou não (sim, há dois nacionalismos) nem festa estão preparando para o bi.
Valter Caldana
ou como para discutir a relação
é preciso conhecer a relação
Interessante notar que ainda não estamos maduros ao ponto de perceber que há uma diferença enorme, o quanto enorme é a diferença entre estrutura e conjuntura, entre de um lado o que seja proteger o trabalho, em especial das distorções e desproporcionalidades que se estabelecem em sua relação com o capital, uma questão estrutural e, de outro, quais os mecanismos e qual a extensão desta proteção, esta sim uma questão conjuntural.
O que vemos hoje é um ataque à estrutura, a proteção, em função da inadiável necessidade de ajustes conjunturais na organização, extensão e prática desta proteção.
É o que tem levado muita gente a aceitar, defender e apoiar cortes em elementos estruturais como sendo reformas de elementos conjunturais.
Mas, vale lembrar que quando se derrubam peças estruturais, a casa cai.
Em outras palavras, o que se está assistindo é uma clara e perigosa tentativa de jogar pela janela água suja, bebê e bacia.
A propósito, transcrevo a bonita definição dada pela corte francesa no julgamento, que traduzi livremente, do link enviado pelo amigo João Baptista Lago. (original aqui)
Vale notar que fica clara a relação de subordinação unilateral e que esta gera a necessidade da intervenção. Mas não determina qual a intervenção, que é uma outra discussão.
“A relação de subordinação é caracterizada pelo desempenho do trabalho sob a autoridade de um empregador que tem o poder de emitir ordens e diretrizes, controlar sua execução e penalizar a falta de seu subordinado. O trabalho dentro de um serviço organizado pode constituir um indício de subordinação quando o empregador determina unilateralmente as condições de desempenho.”
Valter Caldana