Algemados

ou abrindo a torneirinha
em homenagem a Emília

O Estadão traz notícias de que mais um avião americano trouxe uma leva de cidadãos e cidadãs brasileiros deportados de lá. parece ser o sexto ou o sétimo carregamento.

Nós e outros países destinados a fornecer produtos primários e de simples extração para o consumo dos países ditos centrais temos uma contradição de difícil superação, que os EUA já perceberam e estão tomando as devidas providências para controlar seus efeitos(a Europa, como sempre, hesita).

Ao longo do século XX o país se urbanizou e a agro indústria se automatizou. Assim, a população deixou o campo e veio para a cidade. Hoje somos um país agrário e agrícola na sua base econômica com 90% da população vivendo na… cidade!!!

Com o fim da economia de base urbana – indústria, comércio e serviços – surge então um novo excedente de baixo valor agregado (já que o sistema educacional também foi pelo ralo, como a indústria, etc.): pessoas. É, gente. É isto que está fora da ordem, como se perguntava Caetano. Gente. Não a gente que nasceu para brilhar, mas esta gente que, na nova ordem mundial, nas palavras de FHC, é “inimpregável”.

Não que tenham ficado de fora da nova divisão social do trabalho. É pior. Para estes milhões e milhões aqui não tem e não terá trabalho. Nem aqui na cidade, nem no campo.

Então, o que faz um país com seus excedentes, sobretudo um país que assume um modelo primário extrativista para sua economia? Exporta. Vide a riqueza das nações,,, risos.

Portanto, não é estranho entender que vamos exportar cada vez mais pessoas, brasileiras e brasileiros, numa grande diáspora, mais ou menos como há 150, 100 anos fizeram Itália, Japão e tantos outros países para reencontrar, ou encontrar, seus caminhos de prosperidade.

No nosso caso, mais do que encontrar caminhos, tratar-se-á, como diria um certo presidente, de uma quase malthusiana operação demográfica.
Gente demais, economia de menos? Exporta-se o excedente de gente… ponto.

Mas, puxa vida, moço. Devolver algemado???!!!

Valter Caldana

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Mono trilho?

A Folha traz matéria sobre os mais de dez dias parados da linha do monotrilho do metrô de São Paulo. Uma tristeza. Só há o que se lamentar.

Lamento por nós, lamento pelos usuários diretos e lamento, muito, pelos colegas envolvidos nesta aventura, nesta barca furada, neste ‘trem’ parado.

Lamento, mas não por esta falha.
Isto, no universo tecnológico, acontece.

Afinal, quando você é um dos únicos (único?) no mundo a usar uma tecnologia que não foi desenvolvida para o uso que você quer dar a ela, você assume, voluntariamente, este tipo de risco. Faz parte do pacote você ser a cobaia.

Mesmo quando está claro que (exagerando um pouco?) você está colocando um ‘people mover’ de estacionamento de shopping e parque de diversões para fazer o papel de um modal de média alta capacidade…

Mesmo quando você faz no alto o que poderia ser feito no chão por um preço muito menor…

Afinal, ser cobaia não é mal. Alguém tem que ser, não é mesmo?
Além do quê, há sempre o risco de dar certo.

Lamento, mesmo, é por estarmos, e estarem, no meio desta tempestade que foi armada por motivações políticas e não técnicas.
E não, não me refiro a motivações políticas públicas de mobilidade.

Tomara que descubram e superem logo o defeito.

Valter Caldana

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Trecho da matéria da Folha.
“É provavelmente parte dessa peça que acabou caindo da via e parando na avenida próxima do local onde ocorreu o estouro, no trecho novo da Linha 15-Prata. O fato de o Metrô cobrar também o consórcio CEML, que é formado pelas construtoras OAS e Queiróz Galvão, além da Bombardier, joga suspeitas sobre as vigas-trilho, onde os trens circulam apoiados por dois conjuntos de pneus de carga.”
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Liberando o quê?

Como pode uma política liberal ser liberal se, ao colocar o dólar a um valor inatingível, ela nos condena ao isolamento?
Liberdade econômica não é ter o direito de se vender barato…
É bem mais que isso!

Valter Caldana

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O que falta?

A Justiça e o Tribunal de Contas do Estado suspenderam por tempo indeterminado a licitação de concessão à iniciativa privada de uma antiga edificação e seu terreno pertencente à Usina da traição, no Rio Pinheiros, onde se pretende instalar um restaurante e outros equipamentos comerciais.

É admirável que num governo como este não haja uma única privatização que vá para a frente. Parece que mesmo depois de um ano de prefeitura, mais um de governo do estado, ainda não entenderam que o problema não é privatizar.

O problema é privatizar apenas por motivos ideológicos. Como é problema estatizar pelos mesmos motivos.

Mas, o que não conseguem entender, mesmo, é que o interesse público não é o mesmo que o interesse privado e que, portanto, a coisa pública não é igual à coisa privada e a gestão pública não é igual à gestão privada nem em objetivos, nem em valores, critérios ou métodos.

Tem um pessoal ali na Avenida 9 de julho que parece entender bem deste assunto. Tem até dois cursos que dizem ser muito bons…

E olha que o caso aqui é só um restaurante…

Em tempo: não tenho nada contra esta concessão. Até sugiro que seja feito um belo edital, um concurso internacional de projetos, uma licitação pública também internacional para que vença um concessionário que seja do ramo e possa investir na implantação do projeto. Talvez demore um ano a mais do que pretendem… mas, parado na justiça, nasce torto. Bem toro. E ainda corre o risco de fazer com que percamos mais um GP de F1…

Aliás, em tempo 2: sabe uma área que está prontinha para ser privatizada, aliás, sorry, ‘concessionada’ nas marginais? Justamente a área esquina entre as duas, Tietê e Pinheiros, sob o complexo ‘Cebolão’. Deve pertencer majoritariamente à EMAE, CESP e FEPASA

Aquilo daria um parque público com empreendimentos comerciais, habitacionais e educacionais de primeira linha, com grande benefício para toda a região metropolitana. Além de ser vital para o controle de enchentes e inundações na zona oeste…

Seria excelente e muito mais sensato e rentável do que vender os terrenos do Anhembi e de Interlagos e perder os rendimentos que a cidade tem, altíssimos e a custo zero, com as feiras e com o F1…

Aliás, indo mais longe, em tempo 3: Por que não recuperam o projeto do Parque Ecológico ao longo do Tietê e Pinheiros, atualizam, definem pontos estratégicos de intervenção, fazem concursos de projetos para estes pontos e abrem concorrências internacionais para sua implantação e exploração?

Com os ganhos auferidos na operação podem fazer toda a urbanização dos 45 km ao longo dos rios, a eliminação da auto-estrada urbana e a implantação dos sistemas de retenção e retardamento das águas pluviais e de transferência dos esgotos.

Por que não fazem?
Por que é mais fácil, aparentemente, colocar na vitrine uma enorme placa escrito ‘Liquidação. Família vende tudo.’

E dizer que quem reclama é do contra.

Valter Caldana

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E o estádio é público…

E o estádio é público…
kkkkk
Não sou um sonhador, sou um idiota.

Vai aí mais um texto, este de 2011, encontrado nas nuvens. Foi encomendado por um jornal, mas não me lembro se foi publicado.

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SOBRE COPA, ESTÁDIOS E INVESTIMENTOS EM SÃO PAULO

De início temos que simplificar esta discussão. A inclusão de infindáveis variáveis numa questão desta monta e desta natureza interessa sobretudo àqueles que se locupletam e se beneficiam indevidamente com o esforço de muitos. Como se diz, a pressa é amiga da corrupção.

Outra premissa fundamental é que se defina clara e rapidamente que nenhum tostão público deve ser gasto com a construção, reforma ou ampliação de estádios na cidade de São Paulo ou na Região Metropolitana.

Se a Copa é bem vinda, ela o é sobretudo como catalisador de investimentos que já deveriam ter sido feitos ou que demorariam muito tempo para acontecer. E construir ou ampliar estádios de futebol ou arenas multiuso como se diz agora, do ponto de vista do investimento público direto, definitivamente não se enquadra em nenhum dos dois casos.

Assim sendo, qualquer obra tem que ser absolutamente privada, definida de acordo com o interesse público e estar prevista em planos de desenvolvimento urbano e melhoria da qualidade de vida na cidade.

Portanto, qualquer investimento, mesmo os privados, deve atender a estes critérios e deixar, de forma indelével e definitiva, sua contribuição para a consecução mais rápida daquilo que já estava previsto. E planos, como todos sabem, temos muitos. E bons.

Deste modo, não se pode alterar os rumos da cidade para receber a Copa. Ao contrário, o que se defende aqui é que se mantenha o rumo, mais firme do que nunca. E a Copa seja o combustível oportuno para acelerar a caminhada.

A Copa, as Olimpíadas e outros mega-eventos como a Expo Universal – que em breve deveremos ter em São Paulo também, por que não? e tem muito mais a nossa “cara” – são uma boa idéia antiga, do século XIX. Todos sabem que a Tour Eiffel, por exemplo, é símbolo de um destes mega-eventos. E a região da Expo, em Lisboa, também.

Neste sentido, entendendo os mega-eventos como catalisadores e não como geradores ou redirecionadores de rumos, temos que ser firmes também na simplificação da discussão sobre os mesmos. E temos que ficar alertas com relação ao seu uso e com os destinos e a durabilidade dos benefícios que geram.

Há algum tempo insistimos na ideia de que a cidade deixou de ser palco para se tornar atriz, protagonista do teatro da vida.

Hoje a cidade, ‘como nunca antes na história da Humanidade’, se tornou agente, partícipe da geração de qualidade de vida, de cultura, de lazer, de educação, de segurança, de negócios. Em poucas palavras, a cidade, ao definir a (im)possibilidade de acesso, agrega valor. E, se agrega valor, não é paciente, é agente.

Outro aspecto é o de que não podemos correr o risco ficar mais duas décadas pagando uma dívida impagável.

Impressionam a simplicidade e a sem cerimônia com que se falam os números dos orçamentos da Copa. A palavra Bilhão voltou ao cotidiano do noticiário como unidade! Agentes públicos e privados falam em “qualquer coisa como um ou dois bilhões…” com uma sem cerimônia e uma irresponsabilidade impensáveis, nos fazendo lembrar dos algarismos e dos zeros à esquerda dos melancólicos últimos minutos do cruzeiro…

Já paramos para pensar o que significa isso? Que intervalo é este? Que margem de tolerância é esta? As pessoas sabem o que é 1.000.000.000,00 de reais?

Sofremos muito, todos nós, durante 20 anos, para pagar uma dívida discutível, contraída e usada, em boa parte, de forma ligeira… Inclusive fazendo estádios!

Nós, os sobreviventes desta jornada, temos ainda um sopro de tempo para usufruir o resultado deste esforço. E não vamos querer deixar para nossos filhos, para as gerações futuras, uma conta como a que recebemos, que se paga com frustrações, atraso e morte.

Por isso acredito que a discussão sobre os estádios da Copa, particularmente os paulistanos, deva ser travada a partir destas premissas: simplicidade, objetividade e utilidade, tudo isso, claro, com bom senso e espírito público.

E, neste sentido, como exemplo desta postura e desta discussão, acredito que poderíamos verificar a possibilidade de que o estádio da Copa fosse o Estádio do Pacaembu. Sim, um estádio público!

Um estádio público que deve e pode, sobretudo por ser um bom negócio, ser reformado com investimentos privados.

Sugiro a reforma do Pacaembu – mais apropriado falar “modernização” para agradar à FIFA – sem que se cometa o desatino de fazer uma cobertura, com a rápida demolição daquela infeliz intervenção que é o tobogã e, principalmente, a reconstrução da concha acústica… que garantirá a sua multifuncionalidade.

O estacionamento? Calma FIFA, o estacionamento, este se faz na Barra Funda ao lado da inexorável estação intermodal do trem que deve ligar Congonhas a Cumbica. Este sim um investimento urgente, que já deveria estar pronto há anos, e que teria evitado boa parte do caos aéreo recentemente vivenciado no Brasil. E previsto em vários planos para a cidade e para a região metropolitana.

Como funcionaria? Em dias de jogos uma ponte de veículos leves (movidos a gás ou elétricos) entre o estacionamento e o estádio… o transfer, ou a estação de chegada, pode ser construído, simples e eficiente, na Charles Muller, que será obviamente restaurada, uma vez que foi destruída na construção do piscinão, como todos nos lembramos.

E os pontos de apoio para delegações, jornalistas e cartolas, patrocinadores e convidados?

Um convênio com a Fundação Faculdade de Medicina para o uso da área lateral, que abriga uma belíssima e importante obra de Ramos de Azevedo e possui uma grande quantidade de terreno disponível para a construção de estruturas de apoio, também facilmente aproveitáveis pela Universidade de São Paulo após os jogos.

Resta o problema da capacidade. 60.000 lugares para a cerimônia de abertura.

Sei, de leitura de jornais, que na África sobraram ingressos…

Não tenho como discutir a origem ou a correção deste número. Mas posso discutir que, para São Paulo, a construção de mais um equipamento com capacidade para abrigar 60.000 pessoas (lembrar que com a utilização do gramado, em dias de eventos não esportivos, esta capacidade é ainda maior) não encontra respaldo na realidade. Basta ver qual o índice médio de utilização e lotação do Morumbi. Assim sendo, talvez este item seja um filtro direcionador de uma decisão que já esteja tomada, e não explicitada.

O fato é que, a utilização do Pacaembu é mais simples, mais barata, a obra fica pronta em no máximo dois anos, tem grande utilidade posterior e o estádio é público.

Um abraço a todos.

Valter Caldana

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