SABER

Uma das maiores críticas que nós, a gente ‘do meio’ fazemos a boca não tão miúda aos órgãos de preservação do patrimônio é que de quando em quando eles se comportam como semi deuses plenisapientes (contém ironia).
Depois que os vereadores resolveram usurpar este papel e se investiram desta capacidade, a de tudo saber, assumindo as funções do Conoresp, sem ironia, tudo mudou.
Vejamos as assinaturas para instalar a CPI do Padre.
Preliminarmente, vale lembrar que o Padre Julio além de um incansável evangelista, é um hábil articulador e um grande distribuidor.
Distribui carinho, afeto, solidariedade e alimento para o povo de rua e ao mesmo tempo distribui indulgência (plenária?) para uma parcela ruidosa da classe média (onde me incluo, antes que eu acabe apanhando à toa), empresários e políticos.
Por isso eu não entendi bem esta CPI, que é em si um instrumento político importante.
Ela pretende investigar (a) o povo de rua; (b) investigar por que existe o povo de rua; (c) investigar por que aumentou absurdamente a quantidade de gente na rua; (d) os efeitos urbanísticos e econômicos da presença ostensiva e indisfarçável do povo de rua no centro; (e) os efeitos desta presença na psiquê da classe média; (f) os efeitos da atuação do Padre e das outras ONGs na classe média e ali indulgidos (ou indultados?); (g) investigar as várias igrejas de vários credos e denominações que atuam na região; (h) as ONGs que atuam na região(e que vai virar a cidade toda, sendo que algumas são internacionais); (i) a ONG onde atua o padre Júlio (que não é uma ONG, é uma pastoral); (j) ou, ainda, pretende investigar o Padre Júlio; (k) investigar o Cardeal e a Cúria Metropolitana; (l) a Igreja Católica; (m) ou, quem sabe, o Papa, que andou telefonando para o Padre e é o capo da coisa toda?
Com a palavra os vereadores que assinaram o requerimento.
Eu, de minha parte, só sei de uma coisa.
CPI se sabe como e onde começa, mas não se sabe onde termina. Eles deveriam saber…

Valter Caldana

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VEXAME

Eu torço, mas tenho pouca esperança de que o prefeito vete o desmonte do Co(m)presp.
Afinal, estamos sob a égide do “delenda inteligência pública”.
Sob o ponto de vista eleitoral, o prefeito e os vereadores já perderam os votos que iriam perder ao entregar o PDE e o Zoneamento à voracidade imediatista sem projeto e sem futuro. Não vão se preocupar com o Conpresp, tampouco com o Compresp.
E, sinceramente, já fizeram a conta lá atrás e sabem que tanto faz. Perderam votos em um nicho de uma bolha que vão recuperar em parte usando o espantalho ideológico. Apenas abriram uma porta para a entrada do Boulos numa seara (os bairros da classe média temerosa) que ele não dá mostras de saber aproveitar.
Assim sendo, a Câmara vai desmanchar o congelamento de Pinheiros, que é o motivo pelo qual ela está desmontando o Conselho e depois não saberá o que fazer com o resto de suas funções…
Aliás, não sabe, não saberá e nem tem qualificação/corpo técnico para saber. E, espero, não tenha tempo.
Enfim, os 46 vereadores decidiram chamar a si a responsabilidade pela liberação da demolição dos bairros de classe média da cidade e, para não perder viagem, resolveram garantir a finalização da demolição de Pinheiros.
A novidade nisto tudo é a explicitude.
A gravidade é que São Paulo perde o controle sobre o patrimônio.
A constante é que a cidade sai perdendo.
E vai passando mais um vexame.

Valter Caldana

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PIOR

Tenho sido bastante realista e resignado com relação ao novo marco regulatório do mercado imobiliário de São Paulo, o Plano Diretor e o Zoneamento.
Tenho dito desde a promulgação do novo PDE que é apenas mais do mesmo piorado.
Trata-se de mais do mesmo piorado porque nós somos, neste momento, mais do mesmo piorados. Somos coletivamente incapazes de aprender com erros e acertos anteriores.
No entanto, há um absurdo dos absurdos no que foi aprovado que eu realmente espero que pessoas de bom senso da equipe do prefeito o esclareçam da gravidade, que é o desmonte do Conpresp.
Para piorar ainda mais a situação, é preciso atentar para o fato de que a legislação urbana paulistana é exemplo e paradigma para a estruturação da legislação urbana no Brasil todo.
Assim sendo, o desmonte do Conselho de Preservação do Patrimônio trará consequências graves em todo o país, em muito pouco tempo.
Além de abrir o precedente para que outras questões estruturais sejam tratadas de forma superficial e conjuntural tais como a ambiental e sanitária.
Aliás, o próprio zoneamento aprovado já traz o embrião disto, ao permitir por Lei que áreas de proteção necessárias à sobrevivência da cidade sejam ocupadas sem colocar limites claros ou critérios eficazes para que isso ocorra.
Trata do erro primário de tratar de forma conjuntural e pontual problemas que são sistêmicos e estruturais.
Ou seja, toma um golinho de veneno todo dia, para não morrer. Só passar mal, cada vez pior.
Valter Caldana
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SOBRE TRILHOS

O governo liberal paulista encerra o ano contraindo dívida externa de quase 500.000.000 quinhentos milhões de dólares, mais de 2.500.000.000 dois bilhões e quinhentos milhões de reais para recapear estradas diversas, transversais. O valor é só metade do montante a ser gasto, pois a contrapartida do estado é de outro tanto.
Governar (o fazendão) é construir estradas.
Ou reformar as vicinais que o Quercia abriu e asfaltou.
Que fique claro que o programa de manutenção e melhorias da rede rodoviária é totalmente necessário, claro. O que causa estranheza não é o programa, são duas coisas e uma coisinha…
A primeira coisa é contrair divida externa, em dólares, para isso.
A segunda é por que o estado vai se endividar para manter um malha rodoviária em boa parte já privatizada. Isto não deveria estar nos contratos?
E a coisinha é só uma pergunta… quanto deste quase 1.000.000.000 um bilhão de dólares, 5.000.000.000 cinco bilhões de reais que serão investidos numa malha já privada e/ou a privatizar em seguida é destinado a pesquisa e desenvolvimento e a planejamento?
E nada sobre trilhos?

Valter Caldana

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RESPONSABILIDADE

São Paulo caminha aceleradamente para se tornar a primeira cidade brasileira a implantar o presidencialismo parlamentar em nível municipal. Acho até que, observadas as últimas ações da Câmara de Vereadoores, já está feito.
Para quem não sabe, o presidencialismo parlamentar é um sistema de governo inventado no Brasil após 1988 em que o executivo é completamente refém do legislativo, que o aprisiona e determina sua atuação.
Nele o legislativo atua inclusive no que diz respeito à realização orçamentária além, claro, de tirar e colocar ministros e até mesmo o(a) próprio(a) presidente(a).
Sem assumir a responsabilidade…

Valter Caldana

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