VEXAME

Eu torço, mas tenho pouca esperança de que o prefeito vete o desmonte do Co(m)presp.
Afinal, estamos sob a égide do “delenda inteligência pública”.
Sob o ponto de vista eleitoral, o prefeito e os vereadores já perderam os votos que iriam perder ao entregar o PDE e o Zoneamento à voracidade imediatista sem projeto e sem futuro. Não vão se preocupar com o Conpresp, tampouco com o Compresp.
E, sinceramente, já fizeram a conta lá atrás e sabem que tanto faz. Perderam votos em um nicho de uma bolha que vão recuperar em parte usando o espantalho ideológico. Apenas abriram uma porta para a entrada do Boulos numa seara (os bairros da classe média temerosa) que ele não dá mostras de saber aproveitar.
Assim sendo, a Câmara vai desmanchar o congelamento de Pinheiros, que é o motivo pelo qual ela está desmontando o Conselho e depois não saberá o que fazer com o resto de suas funções…
Aliás, não sabe, não saberá e nem tem qualificação/corpo técnico para saber. E, espero, não tenha tempo.
Enfim, os 46 vereadores decidiram chamar a si a responsabilidade pela liberação da demolição dos bairros de classe média da cidade e, para não perder viagem, resolveram garantir a finalização da demolição de Pinheiros.
A novidade nisto tudo é a explicitude.
A gravidade é que São Paulo perde o controle sobre o patrimônio.
A constante é que a cidade sai perdendo.
E vai passando mais um vexame.

Valter Caldana

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PIOR

Tenho sido bastante realista e resignado com relação ao novo marco regulatório do mercado imobiliário de São Paulo, o Plano Diretor e o Zoneamento.
Tenho dito desde a promulgação do novo PDE que é apenas mais do mesmo piorado.
Trata-se de mais do mesmo piorado porque nós somos, neste momento, mais do mesmo piorados. Somos coletivamente incapazes de aprender com erros e acertos anteriores.
No entanto, há um absurdo dos absurdos no que foi aprovado que eu realmente espero que pessoas de bom senso da equipe do prefeito o esclareçam da gravidade, que é o desmonte do Conpresp.
Para piorar ainda mais a situação, é preciso atentar para o fato de que a legislação urbana paulistana é exemplo e paradigma para a estruturação da legislação urbana no Brasil todo.
Assim sendo, o desmonte do Conselho de Preservação do Patrimônio trará consequências graves em todo o país, em muito pouco tempo.
Além de abrir o precedente para que outras questões estruturais sejam tratadas de forma superficial e conjuntural tais como a ambiental e sanitária.
Aliás, o próprio zoneamento aprovado já traz o embrião disto, ao permitir por Lei que áreas de proteção necessárias à sobrevivência da cidade sejam ocupadas sem colocar limites claros ou critérios eficazes para que isso ocorra.
Trata do erro primário de tratar de forma conjuntural e pontual problemas que são sistêmicos e estruturais.
Ou seja, toma um golinho de veneno todo dia, para não morrer. Só passar mal, cada vez pior.
Valter Caldana
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SOBRE TRILHOS

O governo liberal paulista encerra o ano contraindo dívida externa de quase 500.000.000 quinhentos milhões de dólares, mais de 2.500.000.000 dois bilhões e quinhentos milhões de reais para recapear estradas diversas, transversais. O valor é só metade do montante a ser gasto, pois a contrapartida do estado é de outro tanto.
Governar (o fazendão) é construir estradas.
Ou reformar as vicinais que o Quercia abriu e asfaltou.
Que fique claro que o programa de manutenção e melhorias da rede rodoviária é totalmente necessário, claro. O que causa estranheza não é o programa, são duas coisas e uma coisinha…
A primeira coisa é contrair divida externa, em dólares, para isso.
A segunda é por que o estado vai se endividar para manter um malha rodoviária em boa parte já privatizada. Isto não deveria estar nos contratos?
E a coisinha é só uma pergunta… quanto deste quase 1.000.000.000 um bilhão de dólares, 5.000.000.000 cinco bilhões de reais que serão investidos numa malha já privada e/ou a privatizar em seguida é destinado a pesquisa e desenvolvimento e a planejamento?
E nada sobre trilhos?

Valter Caldana

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RESPONSABILIDADE

São Paulo caminha aceleradamente para se tornar a primeira cidade brasileira a implantar o presidencialismo parlamentar em nível municipal. Acho até que, observadas as últimas ações da Câmara de Vereadoores, já está feito.
Para quem não sabe, o presidencialismo parlamentar é um sistema de governo inventado no Brasil após 1988 em que o executivo é completamente refém do legislativo, que o aprisiona e determina sua atuação.
Nele o legislativo atua inclusive no que diz respeito à realização orçamentária além, claro, de tirar e colocar ministros e até mesmo o(a) próprio(a) presidente(a).
Sem assumir a responsabilidade…

Valter Caldana

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MARGINAIS

Um dos nossos presentes de ano de eleições em cidade pobre com o cofre cheio, além do tradicional peru e do asfalto eleitoral, é a ampliação da marginal em direção ao sul, lá onde há um “enorme esforço” para “preservar o ambiente” e proteger a cidade…
Enfim…
Como terminar a marginal é de fato mais um dos vários problemas da cidade a noticia até que deveria ser boa.
Ocorre que me espanta o trecho a ser ampliado ser executado cometendo os mesmos (hoje sabidos) erros da implantação inicial.
A marginal da forma como foi concebida e executada é uma tragédia para a cidade. Mas, não se sabia isso quando foi feita. Na verdade, se sabia mas não se acreditava… vá lá. O ponto não é este, não é o passado, é o futuro.
E para o futuro o que temos aqui é cometer os mesmos erros do passado.
Sempre!
Como este assunto da marginal Pinheiros volta e meia retorna ao imaginário dos mandatários em véspera de eleição, segue abaixo uma sugestão feita na última vez que o tema veio à baila…
Quem sabe um dia percamos ao menos uma oportunidade de perder oportunidades e deixemos de ser marginais…
Com uma pitada de ironia, segue uma sugestão para um governo liberal injetar uma boa dose de capitalismo (não de Estado) na gestão da coisa pública.
Por que não entregar à iniciativa privada a possibilidade de construir a extensão da marginal pinheiros com recursos dela própria (não de bancos públicos ou do tesouro do Estado)?
Ao invés de vender terreno no atacado, como se está fazendo no Anhembi, em Interlagos, na Regional Pinheiros, em breve no Ceagesp, nos parques, entre outros, por que não fazer parcerias produtivas para construir cidade?
Cada um entra com o que tem: a prefeitura entra com a terra e a legislação, o grande capital entra com o capital (o dele) e os detentores da capacitação técnica entram com a capacitação técnica.
Seria isso uma parceria público-privado?
Sugestão de parâmetros de projeto:
Ser projetada como uma avenida urbana e não como uma auto-estrada, contendo:
. áreas para pedestres caminharem e estarem,
. comércio e atividades outras,
. pontos de ônibus e outros meios de transporte coletivo,
. muita vegetação e
. um interessantíssimo e criativo sistema de drenagem que poupará o rio, diminuindo drasticamente o volume e a velocidade de chegada de água pluvial, de água servida, efluentes outros (inclusive industriais, ainda presentes em monta na região).
. por fim, deve ser projetada não apenas do ponto de vista de sua geometria viária mas em conjunto com a ocupação proposta e prevista (densidade e incomodidade, geração de emprego e renda) em pelo menos 250m a 300m bairros a dentro.
Assim, ela poderá ser o parâmetro, o exemplo de como ficariam as demais marginais quando reurbanizadas num futuro próximo…

Valter Caldana

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