COGNIÇÃO

Eu reclamo frequentemente que por não se distinguir a diferença entre altura e densidade a discussão sobre os destinos da cidade formal e consolidada é rasa e sobra esta (falsa) impressão de terra de ninguém.
que, agora que se caiu novamente nesta armadilha com o PDE de 2014, a falsa impressão de terra de ninguém se materializou numa política de terra arrasada, que se transformou em programas, projetos e ações. Vorazes e velozes.
É a eterna diferença entre resultado e resultante.
Num lugar onde não se consiga entender a diferença entre altura e densidade, como querer avançar para a distinção entre trânsito e transporte, acessibilidade e mobilidade, preservação e manutenção, entre outras, e, principalmente entre plano, programa e projeto e, nestes e em tudo, a diferença entre público e coletivo, privado e privativo?
No entanto, sigamos! A estrada da vida é longa e larga e há muito o que fazer! A prioridade é a cognição.

Valter Caldana

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PÚBLICO ALVO

Para mim, um dos maiores símbolos da distorção de leitura do Plano Diretor (que poderia ter sido mitigada na revisão que não houve em 2020) é um prédio na Rebouças que abriga a sede de um banco digital, moderníssimo, o zeitgeist em pessoa, todo conectado com seu tempo, com a rede e com a nuvem.
Pois é…
Além de ter seu endereço na rua transversal, talvez para aproveitar mais algumas vantagens em taxas ou coisas assim, mal sabem seus diretores, ou sabem (acho que sabem, são jovens modernos, bem formados e antenados) o ridículo que passam ao permitirem que a nesguinha de terreno que deveria ser o alargamento da calçada da Rebouças em frente ao seu prédio seja limitada por um muro alto internamente e, externamente, por umas floreiras enormes e ameaçadoras.
E mais, não para por aí, sendo o único mobiliário presente no tal espacinho contemporâneo a cadeira – tipo cadeirinha de madeira de botequim da década de 50, mas poderia ser uma de plástico branco, só que roxa – onde fica sentado o segurança que auxilia o trabalho segregador da floreira. Ah, vira e mexe eu juro ter visto também uma espécie de guarda sol, mas acho que foi uma alucinação…
Só que, fique claro, o problema maior desta situação está no texto do Plano e no zoneamento anacrônico e ridículo, muito mais do que na cadeira do segurança. Pois sempre se soube quem iria ler o texto e aplicá-lo na cidade. Seu público alvo.
Valter Caldana

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ISTO

A esta altura do campeonato da vida já dá para saber que quando você acha que tudo está errado, do começo ao fim, dos antecedentes, precedentes aos pós cedentes, o melhor que se tem a fazer é relembrar de outro importante aprendizado
O aprendizado de que todas as políticas públicas, os planos, os projetos e as ações delas decorrentes são fruto de uma correlação de forças que gera uma dada hegemonia, exercida por um grupo hegemônico. E que esta correlação de forças nasce dos embates sociais, em todos os níveis, dentro e fora do Estado e dos governos. Na verdade, mais fora do que dentro.
Esta é a força que permite ao grupo hegemônico determinar os critérios que serão usados para a tomada de decisão em todas as escalas e instrumentos citados.
Num país eleitoralmente democrático, mas sobejamente desigual e vocacionalmente segregado, em parte isso tudo se constrói nas eleições. As outras partes, com a energia gerada pelo embate cotidiano entre as forças sociais, grupos de interesse e corporações. Aqui, vale lembrar, uma energia potente, liberada num embate que não é nem equilibrado, nem justo. Tem lado e o juiz quase sempre pertence a um deles.
Assim sendo, decisões assustadoras do ponto vista técnico como comprar e construir o monotrilho, fazer um expresso aeroporto que é lento e não chega aos terminais, não fazer entradas de pedestres nas estações da CPTM do outro lado do Rio Pinheiros, obrigando milhares de ônibus a atravessarem o Rio em horário de pico, vender terra publica na bacia das almas e no atacado, manter enormes terminais de ônibus em pleno centro da cidades ocupando áreas valiosíssimas e destruindo o entorno e, não bastasse isso, tentar privstizá-los, fazer túnel na entrada de um porto que tem problema de calado, fazer vaga de automóvel em pleno calçadão, entre outras tantas pérolas e, agora, ampliar uma rede de trem de subúrbio com desenho e tecnologia que a Europa usou nas décadas de 1940 (italia) e 1950 (França), entre outras, não devem ser lamentadas e tampouco se deve cobrar apenas do decisor de plantão suas responsabilidades…
Afinal, há um enorme corpo técnico por trás de cada uma destas decisões, de cada projeto, de cada ação. Há um enorme conjunto de agentes envolvidos.
Assim sendo, uma decisão desta monta, como o TIC – Trem Inter Cidades, não merece ser comentado, analisado, contestado.
Basta degluti-lo, antropofagicamente, e entender que ele é resultado de nós mesmos. Resultante do que somos.
Não merecemos nada mais do que isto, pois não fazemos nada mais do que isto. Nem somos capazes de fazer.
Isto é o que temos. Para hoje e para sempre, isto é o que temos. Isto…

Valter Caldana

https://diariodotransporte.com.br/2023/03/11/governo-de-sao-paulo-aprova-modelagem-final-do-trem-intercidades-e-formalizacao-cptm-em-projetos-de-privatizacao/?fbclid=IwY2xjawL4XldleHRuA2FlbQIxMQABHg-IR2tr6PTQHUXAeuTedR9rWXemcdR5QNtmOIsk3JLghaCLzpwK84muwQFz_aem_RHVfWPGfkqxaCUCNKUUqXg

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SEGURA SERRA

Esta é a dimensão do ocorrido no fatídico final de semana que tem sido muito pouco comentada, espero que apenas por ter sido ofuscada pelo tamanho da tragédia humana.
No entanto, é fundamental observar pela comparação que o problema, definitivamente, não foi as águas e a terra terem ido para os bairros, mas claramente o problema é o fato de que os bairros estão no caminho das águas e da terra.
Assim sendo, qualquer solução proposta que se limite à questão da habitação ou é entendida como apenas emergencial ou será, mais uma vez, uma solução frágil como o solo baseada, em jogar caminhões de dinheiro fora, no buraco, perpetuar o risco e elevar a chance de novas tragédias.
Não se segura uma serra.

Valter Caldana

https://www.facebook.com/valter.caldana/videos/217167520866289

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HAJA PACIÊNCIA

Mais uma foto maravilhosa para a turma do “cresceu desordenadamente” entender que não foi bem assim.
Olha a proporção existente entre a obra viária, o seu tamanho e o seu custo, e a ocupação (inexistente) das vastíssimas áreas lindeiras, laterais, recém preparadas a partir de outro enorme investimento/projeto de engenharia de mega porte, que foi a retificação dos rios.
Ainda há quem acredite que tudo isso foi feito sem planejamento? Aleatoriamente? Desordenadamente? Jura?
O problema é que enquanto se fica reproduzindo esta falácia e entoando esta ladainha, “cresceu desordenadamente, sem planejamento”, na qual muitos agentes públicos querem acreditar, encobrindo o problema real, nunca haverá solução efetiva e eficaz.
Minha paciência está acabando. Bom domingo.

Valter Caldana

https://www.facebook.com/photo/?fbid=730223902074690&set=a.2383656445196139

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