As pesquisas não erraram.
E não existe voto envergonhado, o que existe é voto secreto.
O movimento de migração ainda no primeiro turno era mais do que esperado. Se vários aqui da lista, nós mesmos, já havíamos migrado de nossos candidatos iniciais em busca de finalizar a contenda já no primeiro turno, por que o outro lado não faria a mesma coisa?
Ademais, um dos exemplos mais claros deste movimento foi a eleição de nosso breve ex-prefeito ainda no primeiro turno em 2016. A possibilidade de ida do então prefeito Haddad ao segundo turno com chances de vitória, como avaliava sua própria campanha, mudou votos contra ele nas últimas 48 horas.
Outro exemplo claro é a votação de Erundina láááááá atrás. Virou o jogo em 36 horas, e sem celular ou internet! Quer mais do que a eleição de 2018, que tinha tudo para ser de Geraldo e deu no que deu pelo erro de avaliação do psdb, e dele próprio patrocinando dória? Relembremos a votação dele – e demais candidatos de direita – no primeiro turno.
Virar voto nas últimas 72, 48 horas é comum por aqui. Não é virar, é confirmar uma intenção, uma decisão já tomada e que aguardava o momento oportuno para ser implementada.
Por isso não é voto de indeciso ou de envergonhado. É, na verdade, o voto mais consciente de todos!
É pensado, milimétricamente estudado. Usado, com a precisão de quem usa um bisturi, na hora certa, para defender suas convicções, posições, verdades e crenças. E apoiar inequivocamente quem o fará melhor, mais claramente.
A migração dos eleitores remanescentes de Ciro para a direita era bola cantada. Não é possível que haja alguém que esteja surpreso com isso. Há meses que estava claríssima. O próprio candidato já havia deixado de lado seus eleitores de centro e esquerda, sabedor que já os havia perdido. Quem, entre seus eleitores que cogitavam votar Lula, já havia migrado. O microcosmo empírico desta lista/bolha aqui é amostra inequívoca. Só estavam lá, nos 8% da reta final, os que estavam esperando em quem votar com a direita.
Assim como estava clara, há meses, a ideia de que a tal da terceira via era muito mais a construção de uma narrativa autoindulgente para consolidar o voto de ontem do que um projeto político. Algo como “tentamos, mas não deu… por conta da polarização. Então, não tem jeito, só sobrou isso…”
Lembrando que há, entre os que apoiaram a possibilidade da terceira via muitos, muitíssimos, que já haviam migrado para Lula também.
Demonstração destas possibilidades, da narrativa autoindulgente ao voto absolutamente consciente e estrategicamente colocado na urna, aparentemente definido “nas últimas horas”, é o resultado de todas as outras eleições que se encerraram ontem – deputados, governadores e senadores – para além do presidente.
Como se viu no encerramento da eleição de ontem, este voto, insisto, é um voto em posição, não é um voto em pessoa.
Nós, por outro lado, continuamos cometendo o erro crasso de só olhar a eleição presidencial, reproduzindo o erro que mais condenamos: a hipervalorização da presidência. Isto, para mim, é que é inacreditável.
O segundo turno não é segundo tempo, nem é prorrogação.
Segundo turno é outra eleição. Se Lula for eleito, e ainda há chances reais de que seja, não governará sem corrupção. Ou cairá. Pois a verdadeira eleição acabou ontem. E foi, sim, 7 x 1.
Há outra eleição daqui algumas semanas.
Sigamos, sem vergonha!
Em tempo:
Você, que neste momento está pensando que não há um projeto (coletivo) de país, não se iluda, de novo. Há sim, e você, principalmente aqui do sul/sudeste, que não vota com a direita, não está incluído nele. No entanto, há um projeto alternativo a ser elaborado e disputado, palmo a palmo, nos próximos anos. Em frente!
Em tempo 2:
Vale lembrar que há a necessidade de se fazer uma distinção entre os vitoriosos de ontem.
Ganhou Lula, ganhou Bolsonaro e ganhou o centrão.
Perderam o psdb, a direita moderada e a centro direita (de novo!)
Ganhou o Boulos, e ganhou a bancada de centro-esquerda, que aumentou.
Ganhou o PL, que tem montes de deputados e senadores. A ver se segura.
E perderam alguns fisiológicos, o que sempre é bom!!!
Ah! E ganharam a histórica Erundina e o histórico Suplicy.
E perdeu o histórico José Serra, de quem fui eleitor na juventude em mais de uma ocasião.
Que venha a nova eleição!!!!!
Valter Caldana