SOPA DE PEDRA, CAMA DE PREGO

Foi aprovado pela câmara dos deputados um projeto que proíbe a arquitetura hostil, muito justamente nomeada Lei padre Júlio Lanceloti.
um certo mal estar corporativo com o termo, de fato equivocado e injusto para com a Arquitetura e o Urbanismo.
A pedido do CAU-BR, inclusive, o autor do projeto alterou esta terminologia no texto da Lei, o que foi altamente positivo e gratificante.
No entanto, num país organizado por uma sociedade que é capaz de fazer com os pobres o que nós fazemos, onde haveria espaço para tamanha complexidade e sutileza terminológica?
O problema do Brasil é ÉTICO,
não é semântico.

Valter Caldana

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PEGA PEGA PEGA LADRÃO

ou a volta do que não veio
Eu fui das vozes solitárias que lamentou a entrada da PM no metrô.
Não por coincidência, aumentou imediatamente o noticiário de casos de furtos e agressões nas linhas. O que gera, por si só, tanto o aumento de ocorrências quanto a natureza do noticiário, um enorme arranhão num dos maiores patrimônios do metrô, que há muito vem sendo agredido como empresa e instituição pública, que são a segurança e a sensação de segurança que passa para a sociedade.
Não deve ser difícil para quem tem acesso aos dados fazer uma análise quantitativo comparativa entre a involução do número de seguranças próprios, aumento do número de PMs e ocorrências após a mudança do paradigma estrutural do sistema de segurança.
Fala-se tanto em PPP e privatização, com concessões mais do que discutíveis, eu ainda não entendi por que a segurança, depois de 50 anos de excelentes serviços, foi *eststizada*…

Valter Caldana

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PRO BRASILIA FIANT EXIMIA

São Paulo se colocou desnecessariamente numa encruzilhada.
Estranho, para um estado que ainda se considera inteligente, liderança nacional hegemônica, que pensa carregar o país nas costas, que diz se orgulhar de sua produção científica, industrial, agrícola e de serviços, que se enxerga como uma locomotiva. Que se acredita progressista e empreendedor.
Ao se colocar nesta situação bizarra SP conseguiu se igualar ao que há de pior no país. Divisão, dicotomia, obscurantismo… E, assim como o país, conseguiu se colocar, tragicamente, numa situação sem saída a curto prazo.
Com um agravante.
Nós, que poderíamos ser, mais uma vez como fomos nos últimos 120 anos, um instrumento de avanço, de superação, de firmeza, ação e desenvolvimento para o Brasil, a partir de agora seremos apenas mais um… Apenas mais um peso, enorme, a compor o lastro que nos amarra e imobiliza.
A metade dos paulistas que abriu mão da solução conservadora que lhes estava dada, disponível para reiterar suas mais sólidas convicções, em favor do bolsonarismo e tudo o que isso significa para a nossa indústria, para o comércio, para os serviços básicos e de ponta, para a ciência e para as relações internacionais, para a cidadania, revelou a dura realidade. Uma vez divididos, somos um estado igual.
O resultado da eleição de hoje não é, como alguns aqui da lista tem insistido, entre dois polos, entre dois extremos. É entre confirmar ou protelar nossa equiparação, nossa diluição na geleia geral brasileira.
O povo que teve coragem de enfrentar uma guerra interna, a sociedade que reagiu à derrota bélica criando uma Universidade de ponta, investindo na agricultura intensiva, na indústria, na ciência e tecnologia já não existe mais, posto que desunido.
O povo que teve coragem de atravessar os mares mais bravios nas piores condições imagináveis, da China, Japão, Coreia, Oriente Médio, África, Europa, Mediterrâneo… já não existe mais, posto que desunido.
O povo que teve governadores como Campos Sales e Salles Oliveira, Carvalho Pinto, Paulo Egídio Martins, Franco Montoro e Mário Covas, que se habituou a inovar, avançar e liderar… se recolheu, se encolheu.
Se dividiu.
E, assim, divididos, nos colocamos como o que somos: apenas herdeiros.
Imaturos, ineficazes, (medíocres ?) e tementes a fantasmas.
Incapazes de entender o que significa nosso maior legado:
pro brasilia fiant eximia.

Valter Caldana

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Bisavôs e bisavós

Um aspecto que já nem me choca mais é a voracidade do grupo social hoje hegemônico na sociedade.

Desde 2016 o desmonte da CF é gritante e a velocidade da retomada do Brasil rural, dependente e importador preconizado pelo liberais é estonteante. Importador, sim, pois o projeto não é de um país exportador de commodities e produtos agrícolas sem valor agregado. É de um país importador… Importador de conhecimento, tecnologia, bens e produtos, serviços, etc… Exporta-se para ter dinheiro para importar.

No entanto, se isso já não me surpreende, posto que vitorioso foi nas urnas em 2018 e reafirmado agora em 2022, de modo inconteste, tem me chamado a atenção o corolário desta opção adotada pela parcela hegemônica de nossa sociedade.

Este corolário não está ligado apenas à dependência econômica ou à pauperização das nossas cidades, elevando o nível de miséria e desigualdade a níveis mais do que alarmantes, posto que alarmantes já são, tornando as cidades inabitáveis mesmo, e sobretudo, para aqueles que defendem este projeto.

Está ligado ao fato de que a explosão social inerente a este modelo é inexorável. Afinal, é bom lembrar que o projeto do fazendão funcionava bem quando o país tinha uma taxa de urbanização da ordem de 30 a 40% da população…

Vale lembrar que para a agricultura crescer no modelo adotado na década de 1960/1970, foi necessário mandar a população para as cidades. Crescimento urbano vertiginoso, numa velocidade muitas vezes superior à nossa capacidade de construir infraestrutura básica.

Deu nisso, nos absurdos déficits com os quais convivemos desde então…

Hoje estamos em 90% de taxa de urbanização da população. E vale lembrar que todo este contingente, inclusive nós, está excluído do projeto e do modelo econômico em implantação.

Não há a necessidade de serviços, por isso não há a necessidade de formação de qualidade. Não havendo a necessidade de formação de qualidade, não há a necessidade de educação de qualidade. E por aí vai… Isto se aplica a quase todas as áreas de conhecimento, não apenas à educação (que me fala mais de perto, por isso citei).

A opção está feita. Nada faço que não seja uma constatação. Não vai aqui, sequer, um juízo de valor.

O Brasil, por óbvio, não vive sem o agronegócio. E nada do que escrevi acima vai contra esta realidade. Aliás, como arquiteto e urbanista, nem me sinto muito à vontade para falar sobre o agro, me limito às questões ambientais.

O que procuro chamar atenção é que o problema não está lá no rural (ou sim, não é o assunto aqui). O problema está bem aqui. Na cidade, no século XXI, na porta de nossas casas. Hoje havia um ser humano defecando entre um carro e o meio fio, às 14h00, na rua Dona Veridiana.

A surpresa, afinal, qual é, então?

A surpresa é o estado de SP, que resolveu abrir mão das conquistas e vitórias que obtivemos desde 1932 ao rejeitar inclusive, a opção dita de centro representada pelo governador Rodrigo Garcia… Se não era centro, e sim centro direita, a esquerda tampouco o é, posto que centro esquerda.

O fato é que o estado, sempre conservador, optou não pelo caminho intermediário. Optou por uma das pontas. A ponta mais à direita que a própria direita. Optou pela adoção, aqui, pelo voto, do modelo carioca-federal de governo. Por carioca, não me refiro à origem de nascimento do candidato vitorioso no primeiro turno. Me refiro ao grupo que ele representa e às metodologias de governança que defende.

Ou seja, aquele estado que ao perder na porrada em 32 respondeu construindo a maior universidade da América Latina, o maior sistema de pesquisa, produção de conhecimento e formação de quadros, o maior parque industrial e de serviços do país, conquistando em pouco menos de 25 anos a hegemonia econômica (década de 1950) e pouco menos de trinta e cinco anos a hegemonia cultural (década de 1970/1980), se prepara para uma guinada.

Aquele mesmo estado que construiu a melhor e mais qualificada rede pública de assistência técnica agrícola do país, vide agronômicos de São Paulo, de Campinas, vide ESALQ, Botucatu, etc, etc… vide as DiRAs opta por abrir mão disto tudo.

A surpresa, então, afinal, encerrando, é que os bisnetos de nossa elite agrária parecem não conhecer sequer a história de suas famílias, de suas bisavós e seus bisavôs.

Valter Caldana

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Quem topa?


2016

Da série Propostas para o Prefeito
Eu não ia contar, mas vou contar…
Se bem observada, a reforma das marginais realizada pelo prefeito Serra, que custou mais de um bilhão de dólares fora as pontes “estaiadas” (o grande Prof. Figueiredo Ferraz deve rolar no túmulo…. pobre engenharia nacional) foi toda desenhada para ser pedagiada.
que ninguém tem coragem de cobrar pedágio urbano e que eu saiba só o Cândido tem coragem de defender em público.
Pois bem, já que o Prefeito Dória parece ter lido Maquiavel (apenas) – o mal se faz de uma única vez, o bem aos pouquinhos – sugiro então que ele aproveite sua onda de votos e libere a velocidade na pista esquerda (como falei em post recente), pedagiando-a. Resolve uma série de problemas simultaneamente e os que cria, enclausura na esquerda… (kkkk)
Pedagia-la-á* Prefeito?
…..
* Assim como há controvérsias quanto a eficácia do uso do instrumento (pedágio urbano), há controvérsias quanto ao modo de conjugar o verbo “pedagiar”.

2022

A ideia é, (do rio para a cidade), enfim, alargar a margem, fazer finalmente o parque urbano, fazer a maldita pista expressa com velocidade livre e assistência médica e socorro pagos pedagiada (nem tão caro), e urbanizar as pistas restantes, transformando-a em avenidas/bulevares (arborizados, etc…) na escala urbana e as pistas mais próximas da cidade para transportes públicos (inclui taxis) e a última, que é a primeira, colocar toda a mobilidade doce, suave, amigável e os cidadão (também chamamos de pedestres), em áreas com mobiliário, sombras, informações, serviços e etc. Aí vem a cidade edificada. Usos mistos plenos.
É tanta área para o mercado imobiliário construir que dá para uns 20 anos… dá ate para abrir o mercado e ser liberal de verdade (brincadeirinha…)
Já falamos, fizemos workshops, tfgs, artigos, textos, entrevistas….
Para se ter uma ideia, propusemos isto há exatos 25 anos, em1998.
Lá, quando fui consultor do concurso IAB das marginais já propunha a criação da agência (um authority) para cuidar e urbanizar a marginais.
É simples mesmo.
Entendeu, ou quer que desenhe?
Topas?
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Em tempo:
Este é um dos motivos pela minha profunda melancolia pela catástrofe que foi o desfecho da negociação do campo de marte e a privatização, como encaminhada, do complexo Anhembi. Nos condenam a sermos apenas o que somos, daí para menos.

Valter Caldana

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