Curiosidade

ou como o boi voador avua.

Não se trata de curiosidade mórbida… ou sim, se trata. Não sei dizer a esta altura.

Me parece unânime (pois até ele se inclui) que nosso presidente não tem a menor condição de construir um posicionamento sobre quase nada de modo autônomo. Isto certamente inclui seu posicionamento na reação à pandemia.

A estratégia do ganha ou ganha que ele usou no começo estava indo bem, mas a combinação explosiva da miséria e falta de saneamento nos grandes centros atropelou a realidade. Hoje temos mais mortos do que a China, que tem seis vezes mais habitantes do que nós.

Como eu disse quando o vírus ainda estava chegando no aeroporto, se os italianos tem anciãos nós temos pobres, muito pobres e miseráveis… e iríamos pelo mesmo caminho, ou pior.

A curiosidade (mórbida ou não) é, então, saber quem foi o gênio que o levou a este posicionamento, que vai acabar lhe custando caro, do qual ele não tem mais como se livrar?

Será que não seria bom sabermos?

Valter Caldana

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Vendo ou troco?

O que se fez, e ainda se pretende fazer, com a Embraer foi uma operação de venda da empresa, não foi uma parceria nem uma aliança estratégica parcial ou global.
Ou, de outro modo, se parceria fosse poder-se-ia dizer que foi uma do pé com os glúteos, como no caso da Brahma com a Antárctica, onde sobreviveu o imbatível guaraná e alguns rótulos históricos da segunda.

Ou seja. Se forem feitas parcerias, lembrando que a Embraer já é uma empresa global (vide asas e turbinas) e com parcerias tecnológicas e compras em várias praças do mundo, a conversa é uma e eu obviamente altero minha percepção.

Mas claramente não é isso.

A Boeing estava pagando 1,25 Copacabana Palace pela empresa com porteira fechada. Porteira fechada. E assumindo o controle estratégico e a gestão.

Insisto, compra não é parceria.

Valter Caldana

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Ler e entender

O presidente declarou que não lê tudo o que assina. E que, mesmo quando lê, nem tudo ele entende.

Vamos combinar que uma das vantagens do atual é que sua retórica não tem nem filtro nem freios… Isto que ele falou nada mais é do que a dura e triste realidade da quase totalidade do sistema público de exercício do poder no Brasil.

E, para nós democratas, explicita exatamente o eterno dilema entre a legitimidade (incluída aí a representatividade) e a capacitação técnica do eleito.

Por muito tempo se jogou na montagem de uma máquina pública eficiente e ágil e na sabedoria pressupostamente inerente à construção da legitimidade da personagem os amortecedores para esta contradição.

Porém, num país que caiu como um patinho no conto do vigário da destruição da inteligência da máquina pública e desestruturação do aparelho de Estado e que está organizado em torno do analfabetismo funcional e da indigência educacional, este dilema se torna uma tragédia anunciada em todos os níveis de poder e em todos os entes federativos.

Quando chega na cadeira mais importante do Planalto, aí …

Valter Caldana

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1,25 Copa. Pergolado é brinde.

A pergunta:
Mas você acha que a indústria aeronáutica é “nossa”?

A resposta.
Não, não acho. Nem acho que foi o Santos Dumont quem inventou o avião…
Mas a Embraer, em especial sua inteligência, sim é brasileira. Nave capitânia de um vasto e importantíssimo polo tecnológico produtor de conhecimento tecnologia não por acaso plantado, cultivado, alimentado com sangue, suor, lágrimas, muito dinheiro e muito trabalho durante 70 anos exatamente a meio caminho entre Rio e São Paulo..

Um polo tecnológico do qual dependem diretamente mais ou menos dois milhões de pessoas e indiretamente todos nós. A perda do comando da Embraer significará no médio prazo (com a economia de ciclos curtos atuais, se nada mudar, no curto prazo) o desmantelamento do polo.

Caro, a Embraer não é uma estatal há muito tempo… é internacional há muito tempo… participa com inquestionável sucesso de um mercado global que não tem solo há muito tempo… minha questão não é xenófoba nem acho que depois do 14 bis e do Demoiselle o Bandeirante seja o melhor avião do mundo…

Só insisto que é um erro mortal e irrecuperável para um setor de ponta da economia que é nossa cunha, nossa ponta de lança para sermos players minimamente ouvidos no cenário mundial, a perda de controle da empresa. É simples assim.

Mais simples que isso é entender que o que se está fazendo com ela nada tem a ver com o mercado internacional de aviões… E que estes movimentos estabanados e tresloucados já a condenaram à morte, como é de interesse de tantos… pessoas, corporações e países.

Não discuta a Embraer como quem discute a GM, a Ford ou a Hyundai…

Seja como for, mesmo neste caso o fim melancólico do parque industrial e tecnológico do ABC deveria bastar como estudo de caso para o que estou falando… mas, se quiser, dê uma olhada em Liverpool, ou mesmo na sede das indústrias Dassault na França… tantos outros casos espalhados pelo mundo, bem aqui pertinho.

Enfim, a Embraer não é nossa, muito menos minha. Mas a inteligência dela é. Muito nossa. Construída e financiada, paga mesmo, com nosso dinheiro, com nossa criatividade, com nossa cultura e com nossa história. Manter seu comando operacional e estratégico é uma questão de projeto e planejamento de futuro.

Mas, insisto, para este projeto que ora vige, do fazendão extrativista e exportador, de fato é melhor deixar entregarem tudo em troca de uns tostões… 1,25 Copacaban Palace, que era o preço estipulado…

Valter Caldana

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O bonde da História se chama desejo?

Meus vários amigos historiados estão aparvalhados e apalermados com o veto do presidente à regulamentação da profissão de historiador… Confesso que nem sabia que não era reconhecida e comungo o espanto e revolta com a decisão.

Nos chama a atenção o ódio à história e aos historiadores deste governo e de seus eleitores por ação ou omissão…

Me chama a atenção, sobretudo, o fato de que os nossos atuais militares detentores do poder são tão diferentes dos anteriores que nem mesmo o gosto pela história (ainda que conservadora e personalista) que poderia aproximar, tão próprio dos quartéis e da caserna, eles tem…

Os mestres deles, vale lembrar, recuperaram e incensaram muitas figuras históricas como Pedro I, por exemplo, e se serviram fortemente do sesquicentenário da independência para inclusive se aproximar e se legitimar junto à sociedade,.

Os atuais, mesmo às portas do bi centenário, tão importante, não fazem nada, atacam os historiadores e a história e ficam na ciranda de seus interesses.

Só para entender o que pensa de nós quem está no poder, e o quanto vale nossa auto estima, os que puderem se lembrem do que foi a comemoração do bicentenário em 1976 e a nossa, agora…

Seja como for, é preciso considerar que a Lei tenha esbarrado em um problema de origem, pois algumas destas iniciativas, que envolvam a criação de despesas, não podem ter origem no legislativo.

No entanto, caberia um retorno do executivo e não um veto simples.

É preciso considerar que a Lei tenha esbarrado em um problema de origem, pois algumas destas iniciativas, que envolvam a criação de despesas, não podem ter origem no legislativo.

No entanto, caberia um retorno do executivo e não um veto simples.

Sobre os historiadores, o CAU, o CREA e outros conselhos.

Continuando o post anterior, é claro que a não regulamentação da profissão de historiador tem uma carga simbólica específica, mas é bom lembrar que ela é, sobretudo, de caráter ideológico.

Já não é de hoje, para ser franco desde que caiu a trabalhista Dilma e assumiu o liberal temer que venho alertando que a regulamentação, ou a desregulamentação, das profissões está na agenda.

Os nossos liberais no poder são ideologicamente radicais e basilares e se colocam contra todas as regulações e regulamentações. Em especial àquelas que signifiquem qualquer tipo de entrave à atividades econômicas de qualquer natureza.

Veja a orgulhosa defesa da implosão do INMetro feita pelo presidente na televisão, a ação demolidora no IBAMA ou no IPHAN, para ficar nos mais emblemáticos…

Pois que se cuidem os engenheiros e arquitetos. A regulamentação da profissão está na pauta e na agenda. A reserva de mercado, sobretudo internacional, de que desfrutamos é encarada por eles como um entrave brutal a novos negócios, em especial em urbanização, patrimônio e infra-estrutura, com seus contratos bilionários.

É encarada por eles, donos do poder, como entrave, e pelos profissionais, que não enrendem sua dimensão e amplitude, como estorvo.

É a combinação necessária para a tempestade perfeita.

Valter Caldana

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